Saturday, August 27, 2016

DE BORLA, PARA TODOS


Há 25 anos que a Shakespeare Theatre Company  oferece aos residentes, ou visitantes, na área de Washington DC, a oportunidade de assistirem gratuitamente a um dos espectáculos da companhia. Basta uma inscrição por e-mail e aguardar que a tômbola dê o resultado (frequentemente favorável) no fim do dia para a sessão, ou sessões, do dia seguinte.
Este verão, entre 16 e 28 de Agosto, está em "Free for AllThe Tempest no Sidney Harman Hall, inaugurado em 2007.
Muito próximo deste, a mesma companhia continua a dispor do Lansburgh Theatre, construído em 1992.

Assistimos a este "The Tempest" com a recordação bem presente do espectáculo apresentado por Carlos Avilez no Teatro Mirita Casimiro, que registei aqui.
Mas não vou fazer comparações.
Cascais não é Washington DC,  o grupo do "Teatro Experimental de Cascais" não possui os recursos, humanos e materiais, da  Shakespeare Theatre Company, ainda que esta não disponha de subsídios públicos.
Um aspecto, contudo, vale a pena salientar.
É muito frequente em Portugal sentarem-se em lugares privilegiados entidades convidadas para assistirem gratuitamente a espectáculos subsidiados pelo orçamento de Estado. O interesse da população portuguesa em geral pelo teatro é débil, e a assistência é muitas vezes composta com este tipo de convites.
Resulta desta prática, antiga, algum incentivo à adesão no futuro de mais público ao teatro?
Não resulta. Quem entra de borla aguarda borlas no futuro.
Quem se candidata a um espectáculo "Free for All" da Shakespeare Theatre Company passa a receber insistentes notícias de todos os espectáculos da companhia. E muitos irão, pagando.

Gostamos de teatro, assistimos, sempre que podemos, a espectáculos de teatro na área metropolitana de Lisboa. Nunca recebemos notícias por e-mail dos espectáculos em cena no sítio onde residimos. Em contrapartida, recebemos e-mails que nos enchem a caixa de correio de empresas que não conhecemos de lado nenhum. Generosas ofertas de dinheiro a taxas acima de 9%, p.e., são quase diárias.
Não sei quem lhes disse que, cá em casa, estamos a precisar dinheiro.

2 comments:

Anonymous said...

A acrescentar ao problema da estratégia lembro apenas que nos EUA a radicalização e os símbolos usados pelos diferentes grupos radicais (ex. panteras negras)eram incorporados na sociedade como moda (Ex. os cabelos em carapinha)esvaziando de conteúdo a simbologia que incorporavam.

Rui Fonseca said...



Obrigado, Anonymous, pelo contributo.
Que, percebe-se, é dado ao apontamento anterior.

Acontece ...