Tuesday, October 14, 2014

FAÇAM O FAVOR DE DESCONFIAR

O tema do programa - O terramoto no grupo Espírito Santo - prometia mas ficou muito aquem daquilo que muitos esperariam. Murteira Nabo não comentou os empréstimos da PT ao BES, ficou-se pelo conto da história conhecida, Pedro Lains, como ele próprio acabou por dar conta, pairou sobre o campo das más teorias para subliminarmente recomendar que não se volte a votar em Passo Coelho, Soromenho Marques foi o mais incisivo mas não culpou ninguém. As duas Marias João disseram o que já disseram no livro que escreveram. O debate acabou por ser animado a partir da plateia com as intervenções do treinador Carlos Queiroz - treinador no Irão, enganado numa filial do BES no Dubai - e pelo repesentante dos trabalhadores do BES que confessou aquilo que toda a gente deveria saber: os bancários são incentivados a vender "produtos" que nem eles próprios conhecem a composição e o risco, tendo muitos deles comprado acções do BES e obrigações do GES porque acreditavam no patrão...e que o Novo Banco está diariamente a perder clientes por incumprimento do reembolso dos investimentos em papel da Rioforte. 

Culpados?
Carlos Queiroz apontou o dedo ao Governo e aos reguladores, nomeadamente ao governador Carlos Costa que "deveria ir-se embora". Foi a propósito desta acusação ao senhor Carlos Costa que, do painel, se ouviu o professor Avelino de Jesus afirmar que o sistema financeiro é de tal modo intrincado que não há supervisão alguma que seja capaz de travar as maroscas dos senhores banqueiros. Não há, resumiu ele, esse governador que se procura. E que, portanto, as pessoas devem desconfiar. Perante o sistema financeiro a única atitude inteligente é o da desconfiança sistemática. Tem umas economias? Não as ponha todas no mesmo cesto. Diversifique. Mas como, professor Jesus, se cada banco cada buraco?

A teoria do professor Avelino Jesus é, temos de reconhecê-lo, revolucionária. Mas subtil. Tão subtil que nenhum dos outros participantes contestou ou sorriu sequer. Até agora dizia-se que a confiança era a base que sustentava o sistema financeiro. Sem confiança não há bancos, sem bancos não há sistema financeiro. Ou há? Parece que sim. Baseado na desconfiança, segundo AJ. 
Num sistema baseado na desconfiança ninguém é culpado, salvo o lesado. 
Num sistema baseado na confiança, também.
E é, certamente, neste passe que passa a subtileza da teoria aveliana.

À atenção da Academia Real Sueca das Ciências.
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Correl. - 565 trabalhadores do BES têm 5,3 milhões de acções do banco

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