Saturday, June 08, 2013

RECTIFICATIVOS

Respondendo à pergunta de um deputado da oposição, ontem, na AR, durante a discussão do Orçamento Rectificativo, o ministro das Finanças afirmou que o cumprimento do défice, apesar da desanimação dos últimos indicadores conhecidos referentes ao primeiro trimestre do ano referidos pelo deputado, é possível porque o crescimento económico vai contribuir para o atingimento daquele objectivo maior. O ministro atribuiria ainda, noutra ocasião, às condições atmosféricas desfavoráveis a continuação da redução do investimento, com particular incidência nos atrasos provocados na construção civil. 
 
Depois de ter anunciado há duas semanas atrás o "momento do investimento", Vítor Gaspar já conta com o alvoroço investidor até ao fim deste ano nas contas que faz para cumprir os compromissos assumidos com a troica. O que, reconheça-se, se não é uma boutade meteorológica talvez seja uma aparente rectificação da sua fé. Aliás, vem-se assistindo nos últimos tempos a declarações diversas rectificativas de posições que antes eram declaradas inamovíveis. Depois de madame Lagarde ter chamado a atenção para as consequências menos recomendáveis dos excessos nas  políticas de austeridade adoptadas na União Europeia, o FMI que ela geralmente dirige, fez agora mea culpa e reconhece ter havido falhanços notáveis no primeiro plano de resgate à Grécia. Mas a Comissão Europeia, que se tem notabilizado por andar atrasada no curso dos acontecimentos, já veio discordar fundamentalmente - vd aqui - deste relatório do FMI.

Domesticamente, e ainda durante a sessão plenária de ontem  de apreciação do Orçamento Rectificativo, os deputados Miguel Frasquilho do PSD e João Almeida do CDS pediram ao Governo maior determinação nas próximas negociações com a troica juntando-se à oposição que exige a renegociação do memorando. Mas de pouco valem estes discursos para telespectador ver. Falta a este Governo, além do mais, o suporte político que deveria ter sido mantido pelos três partidos que subscreveram o memorando de entendimento. Falta também a este ministro das finanças convicção numa política diferente, apesar de ligeiro rectificativo nas suas declarações recentes.

O áugure  professor Marcelo considerou Vítor Gaspar, na sua prelecção de domingo passado, um membro bastante inútil deste governo. Foi mais uma cena degradante, que não deveria ter tido a oportunidade de acontecer, e que nos remete para a fábula do burro e do leão moribundo, salvo o devido respeito pelos protagonistas. O primeiro-ministro não ouve nem vê isto?

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