Saturday, June 01, 2013

O JOGO DO FAZ-DE-CONTA

Anteontem,

a Comissão Europeia recomendou o prolongamento do prazo para o correcção do défice português, para 2015. Para isso serão no entanto necessárias duas condições: que circunstâncias económicas imprevistas tenham um impacto significativo nas finanças públicas e que Portugal tenha entretanto tomado medidas consideradas eficazes para combater o défice. Estas propostas da Comissão Europeia têm agora de ser aprovadas pelo Ecofin".
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Segundo o mesmo documento, a Comissão lembra que "as autoridades portuguesas  devem realizar os objetivos de défice orçamental global de 5,5% do PIB em 2013, de 4,0% do PIB em 2014 e de 2,5% do PIB em 2015,  o que é coerente com uma redução do saldo estrutural de 0,6% do PIB em 2013,  1,4% do PIB em 2014 e 0,5% do PIB em 2015, com base na atualização de maio  de 2013 dos serviços da Comissão das perspetivas económicas de Portugal".

"Portugal não está sozinho na decisão tomada hoje em Bruxelas, já que  "a Comissão adotou recomendações dirigidas ao Conselho com vista a prorrogar  os prazos para a correção das situações de défice excessivo em seis países:  Espanha, França, Países Baixos, Polónia, e Eslovénia" e ainda Portugal."

"As recomendações serão aprovadas pelo Conselho Europeu de junho e formalmente  adotadas na cimeira de líderes europeus que decorrerá em julho."
 
Hoje,
 
"Portugal regressa o clube da bancarrota. A probabilidade de incumprimento da dívida soberana portuguesa num horizonte de cinco anos subiu de 23,56% para 24,79% entre 24 e 31 de maio, uma subida de mais de um ponto percentual em uma semana, segundo dados da CMA S&P Capital IQ."
 
Até quando é que pode sustentar-se este jogo de faz-de-conta-que-não-sabem que Portugal não tem nenhuma hipótese de cumprir os objectivos que lhe impuseram, e que têm vindo a ser revistos sem que seja a removida a impossibilidade congénita?  
 
Repito-me: ou há redução do custo da dívida para níveis suportáveis pela situação cada vez mais debilitada da economia portuguesa, por redução adequada dos juros, uma adequação que terá de ser tanto mais drástica quando o prazo em que se mantiver o jogo do faz-de-conta, ou Portugal não se libertará da ameaça da espada da bancarrota.
 
Quem é que pode demonstrar o contrário? 
 
Ajuda Portugal o facto de a situação económica estar ainda a evoluir no sentido recessivo e, deste modo, a caírem na rede do endividamento excessivo mais parceiros? Não parece. As situações dos que compõem o lote são tão díspares que não há outra garantia que a companhia possa assegurar senão a pressão para a mudança do rumo da União Europeia no sentido de uma federação política mínima, a união bancária, a supervisão e a garantia global dos depósitos, toda uma panóplia de instrumentos de que eles falam mas não os adoptam. Esperar por essa evolução em tempo oportuno é esperar por Godot.
 
O ministro das Finanças, este ou outro que venha, tem que mostrar aos troicos o óbvio: que os impossíveis são isso mesmo. Ou não?

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Correl . - Miguel Cadilhe propõe a renegociação honrada da dívida.

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