Monday, April 22, 2013

SWAPS DO DIA

Hoje todos os media acordaram em alvoroço com a susbstituição de alguns secretários de estado, presumivelmente em consequência de, pelo menos alguns deles, estarem directa ou indirectamente relacionados com a realização de contratos de swap de juros realizados por empresas públicas de transportes produzindo perdas potenciais que ultrapassarão os 3 mil milhões de euros, mais ou menos o dobro dos cortes que o TC reprovou. Ouvidos alguns dos habituais opinadores, percebeu-se que, além de perceberem pouco do assunto, tinham-se esquecido que o assunto saltou para os jornais logo na segunda semana deste ano - vd. aqui.
 
Porquê, então, esta exaltação geral? Antes de mais, porque os media alimentam-se destas coisas. Depois porque sairam uns quantos secretários de estado que darão lugar a uns tantos outros. Depois ainda porque tudo isto acontece agora em sequência do conclusão da auditoria aos contratos em questão. E ainda que não se saiba pormenores da auditoria, é fácil concluir que se alguns dos secretários de estado dispensados tinham tido responsabilidades na negociação dos contratos, algumas ilegalidades terão sido detectadas na matéria. A menos que tudo não passe de uma ilusória coincidência. Em qualquer caso, daqui a uns dias o caso do dia de hoje estará submergida por novas vagas de novos ou renovados casos.
 
O acontecimento mais notável, contudo, é a aparente facilidade com que este governo, a caminhar por cima das brasas, está a conseguir recrutar novos elementos, alguns dos quais com curriculum académico prestigiado -  Poiares Maduro e Fernando Alexandre, por exemplo. Terá a injecção de sangue novo e limpo efeitos determinantes na recuperação de um governo atascado? Não terá. Da primeira vaga de académicos que entraram para o governo, numa altura em que apesar de tudo haveria alguma esperança de sucesso, alguns já sairam e outros estão à porta. As condições de resiliência governativa apertaram-se bastante desde então. Se os que agora entram sobreviverem na política serão certamente os lideres no futuro.
 
Não ficaram por aqui os swaps do dia. O ditoso José Barroso (com perdão da rima) terá dito hoje numa conferência em Bruxelas - Federalismo ou Fragmentação - que a política de austeridade atingiu os seus limites.  E que na Comissão Europeia cederam demasiado a conselheiros tecnocratas e que não fizeram tudo bem, apesar de fundamentalmente certa a política económica implementada na Europa. 
 
Um swap de linguagem com que Barroso quer fazer acreditar que a comissão europeia ainda existe e que Angela Merkel e Wolfgang Schäuble são, afinal, meros conselheiros tecnocratas que tramaram a União Europeia com uma política fundamentalmente certa.

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Correl .- Comentário que coloquei aqui e aqui, hoje, 23.

A notícia (das operações de swap) só é agora notícia porque sairam dois secretários de estado presumindo-se que haja correlação entre a saída e o seu envolvimento na negociação dos contratos. As perdas resultantes já tinham sido noticiadas na segunda semana deste ano em todos os media. Por que levou tanto tempo o apuramento de responsabilidades, que, segundo a imprensa de hoje, ainda não estão esclarecidas, é um mistério.

Porque, das duas uma: ou os administradores que negociaram os contratos estavam autorizados pela tutela a fazê-lo nos termos em que os realizaram, ou não. Se estavam, a responsabilidade transfere-se para quem autorizou operações que nunca deveriam ter sido realizadas por gestores que não tinham instrumentos para fazer o hedging com outras operações de risco contrário; se não estavam, devem ser pessoalmente responsabilizados por dolo e gestão danosa. Quando não há hedging há jogo, e o jogo, tanto quanto julgo saber,não é consentido quando as paradas são feitas com dinheiros dos contribuintes. 

Tudo isto é susceptível de ser apurado em três tempos.
A demora só pode justificar-se pela tentativa, parece que infrutífera, para desculpabilizar os infractores. De qualquer modo, em cada dia que passa sem que o governo informe os portugueses do que se passou, sobem as suspeitas de conivência entre compadres.

Correl . - Declarações de Barroso irritaram Merkel. Previsível
 

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