Wednesday, January 23, 2013

ALGUMA COISA ESTÁ A MUDAR NA EUROPA

- Por que é que o franco suíço, que chegou quase à paridade com o euro, obrigando o Banco Nacional Suiço a fixar em 1,20 o limite máximo do câmbio relativamente ao euro para suster a  sobrevalorização da moeda suiça, está agora a desvalorizar-se notoriamente contra a moeda única europeia?
- A melhor justificação para o movimento brusco que se observou nos últimos dias é a percepção que passou a existir de que finalmente alguma coisa está agora a mudar na Europa. Não apenas por mérito próprio, Portugal acaba de ver subscrita por investidores estrangeiros dívida a cinco anos a menos de 5%. O Banco Nacional Suíço investiu cerca de 80 mil milhões de euros em dívida dos países do núcleo da zona euro - Alemanha, Áustria, Holanda, Finlândia e  França - quando os rumores abalavam a moeda única e o franco suíço se sobrevalorizava imparavelmente. Se a situação está a mudar na Europa o câmbio euro/franco suiço reflecte essa mudança. Para já a barreira psicológica situar-se-á entre os 1,25/1,30.
.
Estará realmente algum coisa a mudar na Europa?
Provavelmente, sim, e em vários aspectos. O compromisso conjunto de Merkel e Hollande em Berlim
de apresentarem até Maio propostas  conjuntas para reforçar a Zona Euro, que contemplem o incentivo à competitividade e ao crescimento tanto podem ser consideradas reprise de declarações  inconsequentes de índole idêntica do anterior directório Merkel-Sarkozy como uma intenção que finalmente arranca por obra e graça da evolução política na Alemanha, agora menos favorável a Merkel, e a insuspeitada imposição de Monsieur Hollande.
.
Por outro lado, a opinião pública britânica, em dessintonia com a opinião dos negócios, continua a percorrer o seu caminho preferido de sempre no sentido de abandonar a União Europeia. David Cameron, dividido entre os votos da opinião pública  os votos da economia, prometeu um referendo depois de 2015,  com o objectivo óbvio de obter novas concessões da UE e, até lá, mudar a opinião do voto popular. O directório Merkel e Hollande respondeu imediatamente à letra:  A União Europeia não se serve "à la carte".
Oxalá ao nosso cepticismo responda a nossa esperança numa Europa Unida : Eppur Si Muove. 
 ---
É anedótica a forma como disputam os partidários os resultados do retorno aos mercados, replicando
no campo político a religiosidade observada no campo futebolístico. Porque nem o senhor ministro Vitor Gaspar faz milagres nem o senhor secretário-geral António José Seguro é vidente. O senhor ministro foi ao mercado quando lhe disseram que havia uma aberta, mas não foi o senhor Seguro que a abriu.
---
Correl.- Eurostat diz que divida pública  portuguesa superou os 120% do PIB em Setembro.

3 comments:

Anonymous said...

Para ignorante de economia e destas coisas de mercados, fiquei estupefacto com a a firmação da secretaria de estado do tesouro à pergunta do jornalista na entrevista da TVI se Portugal estava a necessitar actualmente de financiamento e ela disse que não. Então para é que Portugal foi aos mercados financiar-se em 2500milhões a juros de 4;86 se poderia faz~e-lo mais tarde a juros menores? Se é uma jogada politica esta também nos fica carase não é para que é necessário o dinheiro? vamos abater parcialmente a divida com juros maiores?

rui fonseca said...


Presumo que a secretária de Estado pretendia dizer que, neste momento, não haveria necessidade desta operação se não fosse necessário contar com o pesadíssimo programa de operações com vencimento nos próximos dois/três anos.

Esta operação poderia ter sido realizada mais tarde, e talvez os juros fossem mais baixos? Talvez. Mas, como não creio que ela tenha sido realizada sem que o BCE tenha dado indicações nesse sentido, a sua oportunidade, provavelmente não é discutível.

Para que serviu? Sobretudo para baixar o preço médio da dívida, creio eu. Que, mesmo assim, continuará insuportável.

É difícil para quem não está dentro do segredo dos deuses perceber por que caminhos iremos. Talvez nem os deuses.

manuel.m said...

Começou a corrida para ver quem desvaloriza mais ,quem baixa mais a corporate tax ou, mantendo-a nominalmente,permite na lei suficientes escapatórias para que ela seja zero ou quase,e para muitos um "pouco" de inflação que "coma" as dividas é uma opção que se torna aliciante.