Sunday, December 09, 2012

O QUE DIZ BARROSO

O eventual Goodbye do Reino Unido à UE é o tema da capa do Economist desta semana. A mesma semana em que Berlusconi anunciou retirar a confiança a Mário Monti, e este replicou que, não estando disponível para ser marioneta do Cavaliere, se demitirá logo que o orçamento para o próximo ano seja aprovado. E na mesma semana em que, por cá, as contradições nos discursos do primeiro-ministro e do ministro das Finanças a propósito do recurso ou não às medidas concedidas à Grécia,  se prestaram a críticas de todos os quadrantes, sendo que uma das menos amáveis saltou da boca de Marques Mendes: Vitor Gaspar está a gozar com o pagode. Mais demolidor, parece impossível.  A este propósito, Durão Barroso reafirmou numa entrevista concedida ontem o que tinha dito há dias: Espero que Portugal não peça condições iguais à Grécia.

O que é estas questões têm a ver umas com as outras?
Começando pelo fim: Barroso alinha com Schäuble na aposta (sincera ou não) de que Portugal está no bom caminho para voltar aos mercados em meados, e que resolveremos a incerteza sobre o financimento em 2013". Segundo esta aposta, alinhar com a Grécia, ainda que parcialmente, nas concessões que lhe foram feitas levaria a emparceirar-nos com os gregos no descrédito junto dos investidores. Mas existe alguma segurança de que Portugal venha a ter dentro de um ano possibilidade de se financiar no mercado sem correr o risco de uma recaída? Não há.

A Zona Euro entrou em recessão no terceiro trimestre, as perspectivas de evolução da economia portuguesa (muito dependente da situação na UE apesar de alguma diversificação observada nos destinos de algumas exportações portuguesas para espaços extra-comunitários) têm vindo a ser sistematicamente revistas em baixa, e não se perspectiva nenhuma onda que corra em sentido contrário ao desta maré baixa.

Para complicar o exercício, Berlusconi, que tinha sido empurrado para fora dos comitês europeus, tira o tapete a Monti e nunca se sabe até que ponto o delírio italiano pode voltar a devolver-lhe o poder. Encontrando-se a Itália em risco de cair em default se não for amparada, o eventual regresso do Cavaliere só pode contribuir para uma ainda maior instabilidade na UE e, em primeiro impacto, na Zona Euro. É neste contexto perturbado que os eurocépticos britânicos se preparam para forçar um referendo que obrigue Cameron a dizer adeus à Europa.

E que Portugal se vai lançar no trapézio sem rede?
Não se lembra Barroso que o País já se encontrava de tanga quando ele desertou e entregou o governo à bicharada? Esperemos que, quando for oportuno, se lembre disso o país.

2 comments:

João Miguel Vaz said...

Os ingleses vão perder mais do que ganham com a eventual saída da União Europeia. A Europa perde ? ou ganha com a saída de um parceiro muito dado a reivindicações exageradas ?

rui fonseca said...


Olá João!

Penso que a Europa perde. O Reino Unido é uma parte importante da Europa, tanto do ponto de vista cultural como económico. Neste sentido, a saída dos britânicos provocaria mais um abalo numa União que apresenta já muitas fissuras.

Seria mau para todos, do meu ponto de vista. Mas não se pode impedi-los. A Europa vive dias de mau prenúncio, João. Já não bastava esta desorientação geral e, para além desta ameaça, volta a aparecer em cena essa personagem sinistra que dá pelo nome de Berlusconi. Hoje, em consequência do reaparecimento desse fantasma burlesco e burlão, estão a cair os mercados em todo o lado. Estarão os investidores (especuladores, se quiseres) receosos do Berlusconi?Não. Estão receosos que os italianos voltem a votar nele e companhia.

Não são os líderes que são culpados, mas a estupidez dos povos que os elegem. É da inconsciência cívica colectiva dos italianos que os mercados têm receio.

Cada vez tenho maiores dúvidas se é possível a convivência no mesmo clube de sócios com valores morais tão distintos.

Abç