Wednesday, December 19, 2012

AS LÁGRIMAS DO CROCODILO

"Temos de ter particularmente cautela para que a carga fiscal que estamos a impor não se revele intolerável e insustentável para a sociedade portuguesa", disse anteontem o ministro das Finanças perante a comissão parlamentar de Orçamento e Finanças.

Ouve-se, e à primeira reflexão, concorda-se. Afinal, se o ministro das Finanças está preocupado com os efeitos de intolerabilidade e insustentabilidade da carga fiscal, pode haver esperança que alivie a carga que  estão a impor. Quem está? Ao dizer, estamos, o ministro das Finanças assume a sua quota parte de responsabilidade no carregamento, e é admissível que se subentenda naquele estamos a participação do chefe do executivo. Mas será assim?

Admita-se, até por assumpção pública dessa decisão, que o chefe do executivo com o amen do ministro das Finanças, ou vice-versa, foi mais troiquista que a troica, e carregou o burro mais do que lhe exigiam os compromissos assumidos. Em todo o caso, é público, a dose principal foi prescrita pela troica. De modo que aquele estamos é um estamos assumido por quem foi incumbido de executar ordens que recebeu e, eventualmente, exagerou para ficar bem visto pelo ordenante. 

Se assim é, e não parece que possa entender-se de outro modo, faz algum sentido que o ministro diga aquilo ao burro em vez de o dizer a quem lhe mandou carregar o animal? Se o senhor Vitor Gaspar sinceramente reconhece que o burro já está a dar de lado e um dia destes cai mesmo, faz algum sentido que se volte para o asno e lhe diga, estás aqui estás a cair, em vez de dizer à troica, se não lhe aliviamos a carga temos o animal no chão?  Não faz.

Mas o senhor ministro das Finanças não é tolo. O senhor ministro das Finanças goza até de pública reputação junto dos seus pares europeus, mormente do senhor Schäuble, que é quem manda mais. Então por que razão o senhor Vitor Gaspar troca as marcações no palco e declama para o lado errado?

Só pode haver uma explicação: o senhor ministro das Finanças Vitor Gaspar está a brincar com o burro cabisbaixo.

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