Tuesday, December 04, 2012

APOLOGIA DA CAVALA


A conversa, às tantas, encaminhou-se para a recolha de alimentos do Banco Alimentar.

- Vai ficar aquem do que devia. As declarações da Isabel Jonet vão desencentivar muita gente.
-  Porquê?
- Ora porquê. Porque chocou muita gente com o que disse.
- Disse que os portugueses comiam muito bife ...
- E não é verdade?
... ... ...
- Também comem muito bacalhau, acrescentou Giselle, uma francesa.

Ninguém gosta que lhe digam: estás a comer muito, ou estás a comer demais.
Muito ou pouco, tudo é relativo. No fim de contas, cada qual come do que gosta ... se puder.
Felizardos, aqueles que têm alternativas de escolha porque a maioria não tem. O sentimento de infelicidade, de frustração, de desespero, gera-se geralmente, para uns, na falta de sustento mínimo, e, para outros, na perda de possibilidades de sustentação de hábitos adquiridos.
 
- Gosta de cavala?
- Detesto.
- Nunca provei, nem sou capaz de provar.
- Mas porquê?
- Talvez porque vi muitas vezes centenas de cavalas jogadas na areia da praia pelos pescadores. Ninguém atira fora o que é bom, penso eu.

Os portugueses são os 3ºs. maiores consumidores de peixe do mundo: "57 quilos de pescado por ano per capita, mais do dobro do consumo da média europeia ( 21,5 quilos), um consumo que obriga a importar dois terços do que chega aos nossos pratos". Só de bacalhau, consumimos cerca de 70 mil toneladas por ano, 7 quilos por ano per capita, em grande parte (55%) importado já seco da Noruega. A propósito vale a pena ver este documentário da Globo sobre o consumo de bacalhau no Brasil, um gosto que emigrou de Portugal. Curiosamente, em situações de crise o consumo de bacalhau sobe. 
O salmão fresco, a segunda espécie preferida pelos portugueses (18%) para consumir em casa, a seguir ao bacalhau (21%), é quase na sua totalidade importado também da Noruega.  

Dir-se-á: Tudo isto é normalíssimo, as pessoas têm que comer, e o salmão é um dos peixes mais em conta. E o bacalhau é uma instituição nacional.

Em tempos que já lá vão, mas não há tantos que excedam a memória de uma ou duas gerações, o bacalhau consumido pelos portugueses era pescado nas águas da Terra Nova, amanhado e salgado a bordo, e seco ao sol em Portugal. Hoje, mais de metade do consumo de bacalhau é importado já seco e salgado na Noruega, uma fórmula exigida pelo paladar dos portugueses, que viajou para o Brasil.
 
E a questão subsiste: Comemos muito? É discutível. O que é indiscutível é que comemos muito mais do que aquilo que produzimos. E muitas vezes não valorizamos o que produzimos. Se os nossos hábitos nos obnubilam as consequências inevitáveis destas evidências, mais tarde ou mais cedo a maldita realidade economicista impor-se-á.
 
 
 
   
Preço/quilo - 2, 79 euros

(cozida em vapor)
 
---
Correl. - O Público está a publicar uma série de reportagens, que recomendo, tendo como tema o "Mar" - vd aqui -, e de que só me apercebi depois de ter editado este apontamento de hoje.

3 comments:

Anonymous said...

Então e os nutrientes senhora Jonet? vai ser um país de desnutridos, além de todos os outros ataques à pessoa comum preconizados por todos os Políticos. Antes já era considerado do 3ª mundo, porque não 4ª mundo? Sem nada, sem alimento, sem dinheiro, sem familia, sem esperança.

Lá por seres a Presidente do Banco Alimentar não podes chegar aí e dizer isso à pessoa comum. Vai falar com os Políticos sobre isso! Com eles é bifes e muito mais.

O que vale é que existem pessoas que são tipo camelos como eu e que vao resistir até à última pela verdade, honestidade e justiça!

Em minha casa costumava dizer-se, pode faltar tudo mas não falta comida. Obrigado Pai, sem isso eu não era forte o suficiente para enfrentar este mundo e estas bestas governativas.

Filhos, vou fazer o melhor que posso, nem que fique sem comer vocês terão os nutrientes necessários.

Entao e os filhos da jonet deixam àgua a correr a lavar os dentes? bonito serviço, com o resto da malta a tentar poupar em tudo.

Se não nos derem nutrientes mais vale dizer que o país está já acabado, pois a senhora jonet e os outros não devem saber que foi assim que o homem se criou como tal e que se consegue desenvolver e crescer.






rui fonseca said...

Não há falta de nutrientes em Portugal. Estarão é mal distribuidos. E se alguém tem feito alguma coisa para reduzir a desigualdade em matéria alimentar em Portugal, quem mais tem feito por isso é Isabel Jonet.

Portugal é dos países europeus com mais crianças obesas. Vj. aqui

http://www1.ionline.pt/conteudo/134617-portugal-e-dos-paises-europeus-com-mais-criancas-obesas

Mas obrigado pelo comentário.

Anonymous said...

Certo. No entanto, termos mais crianças obsesas não quer dizer que sejam nutrientes a mais, muito pelo contrário. Comem é desregularmente e maior parte das vezes porcaria que só serve para encher (tal como para os animais de criação), o que normalmente é mais barato.

E se o país continuar assim o ranking vai subir mais nas crianças obesas ou então ficamos com crianças como em África (isso talvez não, a Jonet dá uma mãozinha).

E sim estão mal distribuídos e aí a culpa é dos governantes, qualquer um sem excepção.

Obrigado eu pelo teu Blog.