Tuesday, November 13, 2012

GESTÃO PRIVADA, GESTÃO PÚBLICA

Por que é que em Portugal as escolas do ensino secundário privadas ocupam os primeiros vinte lugares do ranking das melhores escolas do país e as universidades privadas, salvo a Católica, são geralmente consideradas de pior qualidade que as públicas? Por que é que os alunos das escolas secundárias privadas se candidatam às universidades públicas e são maioritariamente provenientes do ensino secundário público os que frequentam as universidades privadas? Por que é que as escolas secundárias privadas de prestígio são, geralmente antigas, e as universidades privadas têm observado um índice de falência elevado? (Fechou (vd aqui) uma universidade privada por ano na última década).
 
Há muitas explicações das consequências mas não são claras as causas quando se comparam as situações relativas entre escolas secundárias e universidades privadas. Pode, por exemplo, argumentar-se que para as universidades privadas o ensino é um negócio e o objectivo do lucro compromete a exigência de excelência. Mas para  os sócios ou accionistas das empresas de ensino secundário o lucro não é um objectivo? Claro que é. Pode justificar-se a melhor performance das escolas secundárias com a frequência de alunos provenientes de classes mais abastadas e, portanto, com melhores condições para serem, em média, melhor sucedidos do que os que frequentam a escola pública, que são maioritariamente provenientes de classes menos favorecidas. Mas por que é que não preferem, geralmente, os alunos provenientes das classes abastadas a frequência de universidades privadas? E a resposta óbvia é: porque as universidades privadas, salvo a Católica, são menos qualificadas, em geral, que as universidades públicas.
 
Esta questão, aparentemente peregrina, tem a sua razão de ser quando se fala com alguma insistência na privatização de alguns serviços públicos e, nomedamente, do ensino.  O Diário de Notícias está a publicar um conjunto de artigos sobre o tema do ensino superior privado em Portugal e, da sua edição
 
 Metade dos ministros de Passos formou-se no privado
 
Como explicar o facto de uma actividade, que envolve valores tão elevados mas tem observado falências frequentes nos seus membros, mostre uma resiliência notável apesar da sua imagem de menos boa qualidade junto da opinião pública, e até apresente um palmarés tão relevante de sucesso político relativo dos que frequentaram universidades privadas? Para além de seis (dois da Católica) dos doze membros do actual governo, formaram-se em universidades privadas o actual líder do PS e o seu antecessor e ex-primeiro ministro, por exemplo.    
 
Uma explicação possível para este ramo de aparentes paradoxos: ao estudante do ensino secundário exige-se-lhe a prestação de provas e a obtenção de mínimos (em alguns, casos muito elevados) para entrar na faculdades da sua preferência; ao licenciado, essa exigência é geralmente negligenciada pelos empregadores. Daí que aqueles que podem frequentam escolas prestigiadas de ensino secundário de modo  a poder entrar em universidades públicas, resignando-se muitos dos que frequentaram o ensino secundário público a pagar propinas mais elevadas para frequentar universidades privadas. No caso do ensino secundário, o objectivo impõe a excelência; no ensino superior, o canudo, exclusivo objectivo de muitos, dispensa normalmente a excelência do ensino encanudado.

Aliás, do mesmo modo se explica a degradação observada em muitos cursos superiores em instituições de ensino superior públicas. Com o objectivo de conseguirem ver aumentadas as dotações orçamentais, concedidas em função do número de alunos, foram, e continuam a ser, admitidos em cursos menos procurados candidatos com notas negativas em cadeiras nucleares desses cursos. 

A gestão pública não é, só por ser pública, pior nem melhor que a privada. No ensino, ou em qualquer outra actividade, a excelência é mobilizada pelos objectivos que a concorrência determina. Se o canudo basta, a excelência requerida fica-se por aí. Quando o savoir faire se sobrepõe ao know how, a cunha e a inscrição política sobrepõem-se a tudo mais.

No comments: