Friday, November 02, 2012

EM DEFESA DA INOCÊNCIA DOS POLÍTICOS

- Se a situação do país é má desde há muitos anos, e nunca foi boa, se os políticos mudam e a situação é a mesma, de quem é a culpa? Do povo?
- A situação é a mesma, não. A situação é pior.
- A causa reside na falta de uma política de formação  e informção dos eleitores. 
- A causa está na alteração, para pior, da escala  de valores.
- Quer isso dizer que os valores sociais já conheceram melhores dias?    
- O processo iniciado no 25 de Abril não foi amadurecido e, mais do que isso, foi viciado por uma ilusão de prosperidade.
- Quer isso dizer que os valores do pós 25 de Abril são menores do que aqueles que prevaleciam antes?
- De modo algum. Essa desvalorização observou-se relativamente aos valores que o 25 de Abril perspectivou.
- Que valores eram esses?
- O combate à desigualdade social, a solidariedade, o respeito mútuo, a justiça, a consciência cívica.
- Voltamos ao ponto de partida: Se existe, e todos estamos de acordo que existe, um défice moral entre o que se sonhou há 38 anos e a realidade em que vivemos, a quem devemos atribuir a culpa desse fracasso?
- Aos políticos. Porque não foram capazes de levar a cabo políticas que prosseguissem esses valores.
- Há também uma quota parte de responsabilidade no povo porque, em última análise, é o povo que coloca os políticos no poder.
- Concordo, mas o povo tem atenuantes porque foi, e é, vítima inconsciente dos jogos de poder, nomeadamente através da intromissão do poder económico que não foi sufragado pelo voto.
- Há alguma sociedade onde o poder económico é sufragado pelo voto popular? 
- Não. Mas o que há são mecanismos que permitem o controle desse poder no sentido de assegurar  que seja a política a comandar a economia e não o inverso.
- Que mecanismos são, ou seriam, esses?
- O que é que acontece em países como a Suécia e a Noruega? Ou na Dinamarca e na Finlândia?
- Nesses casos há uma assimilação popular cultural que que consitui um mecanismo automático, digamos assim, desse controlo.
- Então podemos concluir que, afinal, é a insuficiência de consciência cívica colectiva que consente a promiscuidade entre poder económico e poder político? Que consente que uma Associação Profissional de Juízes anuncie que os cortes salariais poderão levar alguns dos seus membros a exercerem as suas funções com menos independência, e, portanto, aceitarem serem pagos para julgar segundo as conveniências de quem lhes paga? Que consente que associações de militares ameacem veladamente ultrapassar as regras democráticas?
- Parece que sim. As nossas dificuldades decorrem, fundamentalmente, da nossa inferioridade cívica colectiva.  

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