Friday, October 19, 2012

UM VÍTOR, DOIS VÍTORES, TRÊS VÍTORES

Vitor (primeiro) Constâncio.
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Depois de ter desempenhado outros cargos, entre os quais, ministro das Finanças e do Plano em 1978 e governador do Banco de Portugal em 1985/86 e entre 2000 e 2009 - é hoje vice-presidente do BCE, responsável pela supervisão bancária (!), com um mandato para oito anos, depois de ter assistido, impávido e sereno, à importação de endividamento externo, público e privado, feita pelos banqueiros, que lhe competia supervisionar, que afogaram os portugueses em dívidas até aos gorgomilos. Nem sequer deu pela construção do maior escândalo financeiro de todos os tempos em Portugal, que custará aos contribuintes portugueses largos milhares de milhões de euros (ainda hoje não se sabe quantos) nem pela exuberância da formação de outro buraco, que se chamou BPP, que os contribuintes têm de tapar com mais umas largas centenas de milhões. Voou para Frankfurt há dois anos. Os processos dos casos que arruinaram Portugal, ou morreram nas cascas da irresponsabilidade geral ou estão entregues ao adormecimento conivente da justiça.
 
Em Fevereiro de 2006, Olivier Blanchard, actualmente economista-chefe do FMI, apresentou durante a 3ª. conferência do Banco de Portugal uma comunicação - Adjustment within the euro. The difficult case of Portugal - antecipadamente discutido com Vítor Constâncio, além de outros. Termina o autor afirmando: "(A proposta de) uma redução nominal dos salários parece estranha mas tem, essencialmente, os mesmos efeitos de uma desvalorização bem sucedida". Era primeiro-ministro José Sócrates. Ninguém mais quis falar do que tinha dito Blanchard (aliás em consonância com os avisos prévios constantes nos documentos constituivos da criação do euro, seis anos antes) até acontecer o inevitável.
 
Vítor (segundo) Bento
 
 
Actualmente, presidente da SIBS, entre outros cargos, foi presidente do Conselho Directivo do Instituto de Gestão do Crédito Público. Em 2009  publicou "Perceber a crise para encontrar o caminho", onde, de forma clara, mostrou as raízes da crise que se revelava já arrasadora. No blog da Sedes escreveu um apontamento resumo - Eppur si muove - das linhas mestras do que publicou em livro e o título era um remoque a todos quantos discordavam das suas conclusões. Contestado sobretudo à esquerda, que persiste numa política sustentada em mais endividamento, que não sabe onde o procurar, ou na saída do euro, acertou no diagnóstico previsto para o desenrolar de uma situação não enfrentada de modo radical como sugerira Blanchard três anos antes: a alternativa inevitável a uma redução pontual e geral dos salários é a redução menos rápida  que atingirá mais profunda e imediatamente os mais desprotegidos.
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Vítor (terceiro) Gaspar
 
 
Chefiava o gabinete de Consultores Políticos da Comissão Europeia quando foi nomeado ministro das Finanças. Conhece, portanto, muito bem os meandros da UE, do BCE e do FMI, razão pela qual muitos reconhecem ser ele o homem certo para negociar com os credores as condições da situação de sujeição a que nos submeteram aqueles que endividaram o país, sobretudo no tempo de Vítor primeiro, e depois ignoraram os avisos de Vítor segundo.
 
Desafiado a consertar uma situação que apresenta fracturas múltiplas, e da reparação da qual dispensaram o partido mais responsável, Gaspar, mesmo que lhe aprovem o OE, não é adquirido que, mesmo sacrificando tudo o resto (desemprego, recessão) consiga reduzir o défice em 2013 para o objectivo prometido à troica. A tentativa de solução simultânea do aumento da competitividade (reduzindo a TSU das empresas) e da redução (insuficiente) do défice (aumentando a TSU dos trabalhadores), habilmente construída era politicamente idiota, e abalou-lhe o prestígio tecnocrático.
 
O banqueiro Ulrich afirmava há dias que "algumas medidas do OE são para ganhar tempo" , e talvez seja o caso. Porque, ou há, a curto prazo, alterações das regras do jogo que permitam uma redução substancial dos custos da dívida, que pode resultar em grande medida da centralização da supervisão bancária e da garantia dos depósitos, ou é impossível vencê-lo. Já não é, de modo algum, exequível, aumentar a competitividade da economia, reduzindo os salários, e reduzir o défice e a dívida, aumentando a carga fiscal. A alternativa, há sempre pelo menos uma alternativa, que nem o banqueiro Ulrich nem os seus pares querem ouvir falar, estará então na renegociação (honrada, para citar Cadilhe) da dívida. A outra, é a bancarrota do sul a incendiar o sistema  todo.
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* Hollande reconhece benefícios dos paises ricos com taxas de juro elevadas dos outros
Hollande reconhece uma evidência.
Allgarve in PoorTugal
Líderes europeus acordam arranque da supervisão bancária comum em 2013.
E a garantia comum dos depósitos?


 

2 comments:

João Vaz said...

Parabéns pelo artigo. Muito bom.

Blondewithaphd said...

Estamos bem entregues, estamos.