Monday, August 06, 2012

NÂO É UMA QUESTÃO DE VIRILIDADE

"Já há mais de 25 anos que a fertilidade tem vindo a decair no nosso país. E qual tem sido a resposta dos nossos governantes perante esta acentuada descida da natalidade? Assobiar para o lado e/ou pensar que o problema se vai resolver por si próprio. Enfim, o habitual." (aqui)

Virility Simbols é o título de um artigo do Economist desta semana que ironiza, a propósito da inversão recente de posições em matéria de natalidade na Europa e nos EUA, recorrendo à correlação usada pelos conservadores norte-americanos que gostam de exibir o contraste do vigor e virilidade dos States com a decadência e o declínio da Europa. Durante muitos anos, os EUA tiveram taxas de fertilidade total (número médio esperado de filhos por cada mulher durante a sua vida) à volta de 2,1, acima dos valores observados na genaralidade dos países ricos. Aquele valor (2,1) equivale à "taxa de substituição", aquela que estabiliza a população a longo prazo. Nos países europeus, as taxas de fertilidade total estiveram até há pouco tempo abaixo da "taxa de substituição".

Em 2011 a situação inverteu-se em alguns países europeus. Mas não em todos. Não em Portugal, onde as taxas de fertilidade continuam a decrescer há mais de 25 anos, afirmava o ano passado o actual ministro da Economia quando ainda era professor em Vancouver.

A taxa de fertilidade é agora de 1,9 nos EUA e continua em queda, na França é 2,0 e estável, em Inglaterra e no País de Gales está pouco abaixo de 2,0 mas está a crescer ligeiramente.
Nos EUA, a crise é causa da queda  por duas vias: por um lado, os imigrantes que não conseguem emprego voltam para casa. Como são eles que, normalmente, têm famílias mais numerosas que as dos naturais do país, a sua saída reduz a taxa de fertilidade; por outro, a redução de rendimentos, aliada à crise do imobiliário provoca o adiamento de casamento. Segundo uma sondagem da Pew Research Center junto de jovens entre os 18 e os 24 anos, 22% declararam ter adiado o nascimento de um filho e 20% disseram ter adiado o casamento em consequência da crise. 
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Em Portugal o persistente decréscimo da taxa de fertilidade (que estará a agravar-se em consequência da vaga de emigrantes em idade de procriação) está a colocar o país na cauda do crescimento demográfico e do envelhecimento da população, a nível mundial. A emigração de jovens portugueses e o retorno de imigrantes aos seus países de origem em consequência da crise estão a acelerar uma tendência que já vem de longe.

Haverá medidas que possam inverter esta tendência dramática senhor ministro da Economia? Ou continuará o assobio para o lado à espera que que o problema se resolva por si próprio?
Um problema bicudo porque envolve múltiplas variáveis, todas elas difíceis de dominar. Dificuldades que se exacerbam em tempos de crise profunda.
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Pela boca ...
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Há quem pense que são necessários mais apoios à maternidade para inverter a tendência observada em Portugal, e dão o exemplo da Suécia. Não creio que seja a solução, mesmo que ela fosse suportável pela segurança social nos tempos de crise que correm. Será, quanto muito, uma das medidas necessárias mas, certamente, insuficiente. Aliás, como provam os resultados invisíveis das que foram tomadas nos últimos anos.

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