Monday, August 27, 2012

A CULPA DAS CALÇAS

Kenneth Rogoff, ex-economista chefe do FMI, co-autor de "This Time is Different: Eight Centuries of Financial Folly", professor em Harvard, afirmou numa entrevista à rádio BBC, na quinta -feira, citada aqui,  que a "Europa tem de decidir se quer romper com o euro", resumindo, deste modo tão simples de enunciar quanto complexo de atingir, o resultado da sua análise das diferentes posições que agora se confrontam na União Europeia e, mais prementemente, na zona euro.
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Segundo Rogoff,  muito poucos acreditam que a Grécia ainda estará no euro daqui a uma década, uma vez que a probabilidade de abandonar a moeda única é muito elevada, mas não é certo que o país abandone o euro se o financiamento for cortado porque a Grécia poderá dizer que “não pagamos, mas vamos ficar no euro”.  

Os responsáveis políticos devem decidir se querem seguir adiante ou romper com o projecto da moeda única, o que implica, por sua vez, decidir se querem ou não “seguir adiante e ser um país”.
A “grande tensão” nesta decisão localiza-se entre a Alemanha e França, já que os franceses acreditam que o euro pode existir sem “um centro forte”, enquanto os alemães discordam dessa visão, mas  “à maneira francesa não vai funcionar".

A Alemanha tomou uma posição coerente, dizendo que está disposta a pagar, desde que haja um sistema, e não transferências abertas sem “governação”.

Na edição de sábado, a Der Spiegel noticiava  (cit aqui) que  Angela Merkel quer que os líderes da União Europeia (UE) cheguem a acordo ainda este ano sobre um grupo de trabalho para um novo tratado que reforce a integração dos 27 países-membros, e que o assessor de Merkel para a política europeia, já comunicou a intenção da chanceler em conversações em Bruxelas. Merkel pretende que na cimeira da UE que se realiza em Dezembro se estabeleça uma data concreta para a convocatória do grupo de trabalho que irá redigir o novo tratado da UE. Merkel tem pressionado desde há algum tempo os seus parceiros europeus para completar o pacto fiscal acordado pelos países do Eurogrupo com uma união política.

Mas a iniciativa alemã não foi bem recebida por parte dos parceiros europeus, e num encontro do chamado 'grupo do futuro', uma reunião informal de trabalho de dez ministros dos Negócios Estrangeiros, a maioria opôs-se à proposta alemã. Países como a Irlanda querem evitar o risco de convocar um novo referendo, uma obrigação imposta em caso de um novo tratado, e outros países, como a Polónia, são contrários à iniciativa de Merkel por considerarem que são escassas as possibilidades de um compromisso entre os 27 países da UE.

Hoje (cit aqui), o ministro alemão das Finanças anunciou que Alemanha e França estão de acordo sobre a criação de um grupo de trabalho para preparar soluções para concretizar os avanços prometidos para a Zona Euro, que deverá caminhar para uma união bancária e no caminho de maior integração orçamental e monetária.

Obviamente, como afirmou Rogoff, "a Europa tem de decidir se quer romper com o euro", os europeus têm de decidir se "se querem ou não seguir adiante e ser um país”. Como referiu Rogoff, não pode assacar-se à Alemanha a culpa de não apresentar uma solução. No entanto, trata-se de uma solução exequível, na melhor das hipóteses, a médio prazo, enquanto no imediato a Alemanha e a França continuam a colocar dívida a taxas de juro negativas e, por exemplo, a Espanha continua a ver o seu prémio de risco situar-se acima dos 500 pontos (cit aqui).  
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É neste caldo de cultura do salve-se quem puder enquanto há tempo  que continua a afogar-se a Europa.

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Cor.- Depósitos em bancos espanhóis registam maior queda mensal desde 1997
- A ministra das Finanças da Áustria diz que é preciso pesar as consequências da saída de um país da zona euro.
- La banca espanõla sufre en julio una fuga récord de depósitos - Los depósitos del sector privado en los bancos españoles sumaron el pasado mes de julio un total de 1,508 billones de euros, lo que representa una caída mensual del 4,6%, equivalente a la retirada de 74.228 millones de euros, la mayor salida de depósitos privados de las entidades españolas desde septiembre de 1997, según los datos del Banco Central Europeo (BCE). De este modo, el importe de los depósitos del sector privado en bancos comerciales españoles registrado en julio representa el cuarto descenso mensual consecutivo del dato, que se sitúa en su nivel más bajo desde mayo de 2008, cuando los depósitos sumaban 1,507 billones.

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