Sunday, May 20, 2012

A ÚNICA POSSIBILIDADE DE EVITAR UMA CORRIDA AOS BANCOS

segundo Wolfgang Münchau

(Resumo do artigo publicado hoje no FT)

As distorções na competitividade entre os membros da zona euro são importantes, mas no curto prazo, vou ignorá-las por três razões:  Primeiro,  porque as diferenças não são tão significativas como por vezes se diz. A Alemanha entrou na zona euro com uma taxa de câmbio sobrevalorizada; Segundo, os desequilíbrios resultantes dos défices e superavites entre os países tem vindo a reduzir-se ainda que de forma lenta. Acredito que o objectivo de inflação do BCE é muito baixo e os desequilíbrios irão atenuar-se na medida em que a Alemanha terá custos de produção acima da inflação média; Terceiro, a falta de competitividade pode levar à miséria mas não determina necessariamente um colapso.

Apenas um mecanismo pode levar a um colapso da zona euro: uma corrida generalizada aos bancos em vários países. Um país soberano detem mecanismos que lhe permitem controlar esse perigo de modo eficiente, antes e depois: através da garantia dos depósitos, restrições aos levantamentos bancários, e injecções de liquidez de emergência. Mas a eurozona não é um estado.

A melhor forma de pensar acerca de corridas a bancos é o 1983 model de Douglas Diamond and Philip Dybvig, professores norte-americanos de finanças, para os quais uma corrida aos bancos é uma de diferentes reacções racionais de termo de um contrato de depósito. Enquanto os bancos emprestam a longo prazo, os depositantes podem retirar os seus fundos de um momento para o outro. Se um grupo de depositantes levanta os seus depósitos, os bancos lidam nkrmalmente a situação, mas se os levantamentos execedem certos patamares os bancos deixam de ser auto suficientes. 

Uma corrida aos bancos pode ser, portanto, inteiramente racional. Mervyn King, governador do Banco de Inglaterra, disse uma vez que pode não ser racional o princípio de uma corrida aos bancos mas é racional participar numa.
De acordo com este princípio é normal que os depositantes gregos e espanhóis levantem o seu dinheiro dos bancos. Se, além disso, há especulação acerca da saída Grécia da zona euro, então é racional que os gregos retirem o seu dinheiros do país.

Se a Grécia sair da zona euro, é quase certo que sejam impostos controlos na circulação de capitais e o congelamento dos depósitos. Uma vez que os custos de transferência de fundos entre Atenas e Frankfurt é negligenciável, a transferência constitui uma segurança gratuita contra uma eventualidade catastrófica. Seria economicamente irracional que os depositantes gregos mantivessem os depósitos na Grécia.
Depois há Espanha. Um depositante no Bankia confronta-se com a seguinte questão: O balanço do banco dá uma ideia rigiorosa dos riscos assumidos pelo banco? É credível a garantis dada pelo governo espanhol? É agora seguro o Bankia depois de ter sido parcialmente nacionalizado?

As minhas respostas são "não", "não" e "não". Na falta de uma garantia europeia, a Espanha tem um problema similar ao da Irlanda. O estado espanhol é incapaz de garantir suficientemente o seu sistema bancário. A recusa dos auditores assinarem as contas do Bankia levanta muitas suspeitas acerca das suas praticas contabilísticas, que provavelmente não se confinam ao Bankia. Não há, no caso de Espanha, um risco imediato de saída da zona euro - o risco reside nos bancos. . 

Segundo a imprensa, na semana passada os espanhóis levantaram cerca de mil milhões de euros do Bankia - menos de 1% dos depósitos. Não se trata,  por enquanto, de uma corrida aos bancos mas pode ser o começo de uma . E, segundo Mervyn, é racional participar nela.

O que torna tão letal uma corrida aos bancos na eurozona é o seu enquadramento legal. O artigo 66 do Tratado Europeu estabelece que a liberdade de movimentosde capitais apenas pode ser suspensa relativamente a países terceiros. Pode ser invocado para suspender as transferências para a Suiça mas não para a Alemanha. Esta uma das razões pelas quais uma saída da zona euro não pode ser realizada legalmente dentro da UE.  

A única política que pode credivelmente enfrentar uma ameaça de corrida aos bancos na zona euro seria uma garantia alargada a toda a zona euro. Por outras palavras, é preciso retirar os bancos - todos os bancos - do controlo dos seus países.   

Evidentemente este esquema não resolveria todos os problemas da zona euro mas alteraria a dinâmica que a pode destruir.

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