Sunday, May 13, 2012

PORTUGAL NÃO É A SUÍÇA

Tínhamos pedido ao TomTom para nos indicar o caminho de Hombi, nos arredores de Zurique, até Reichenau, no lago Constança, evitando autoestradas e vias rápidas. A atravessar as paisagens do planalto entre montanhas de verde primaveril, deparamos em todo o lado  com uma actividade de formiga que ou aproveita o sol para com uma engenhoca atrelada aos tractores  revolver a erva já cortada que será enrolada ou enfardada antes que volte a chover, ou com a charrua atrelada lavra a terra já disponível para as sementeiras de gramíneas ou plantações hortícolas. Nas pastagens, que se intercalam com os terrenos cultivados, permanece imutável o cliché suíço: os bovinos a dar ao dente dando ao badalo, a preguiçar e ruminar, as casas agrícolas com a estrumeira à porta a exalar o cheiro a fartura, as estufas, os pomares, os vinhedos nas encostas, o combóio a fugir ao longe.

Atravessa-se a Suiça de qualquer ponta a outra e é sempre o mesmo impressionante pulsar de actividade entremeando as cidades e os serviços com a indústria e a agricultura, e pescas à beira dos lagos. Está redondamente enganado, já o anotei neste bloco de notas, quem pensa que a economia suíça se sustenta fundamentalmente do sector financeiro. O peso da indústria no PIB suíço é um dos mais elevados do mundo, os suíços são praticamente autosufientes em bens alimentares.

Reichenau é uma pequena ilha já no lado alemão do lago Constança, está classificada como Património da Humanidade desde 2000 pela UNESCO. Foi ali que no começo do sec VIII foi edificado um mosteiro beneditino e, a partir de lá, como de um alfobre,  transplantaram-se hábitos de trabalho intelectual e braçal que atravessaram os séculos e de que, ainda hoje, há testemunhos, eloquentes de um  passado cultural que iluminou na Idade Média, nos seus mosteiros, e na continuidade da azáfama nos campos onde se alinham as hortas, a céu aberto ou em estufas.

A ver esta paisagem, esta gente, estes campos cultivados, recordo-me sempre da minha aldeia  há umas dezenas de anos a fervilhar de vida vegetal e animal por esta altura do ano. Hoje é vila, um dormitório sitiado por silvados e pousios.

Tinha de ser assim?


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