Tuesday, May 08, 2012

A EUROPA NÃO SE CURA COM POLÍTICAS MONETÁRIAS

"Monetary policy is no panacea for Europe´s ills", escreve Jens Weidmann, presidente do Deutsche Bundesbank, no Financial Times de hoje. 
 
E não é. Toda a gente sabe que não é, mas Weidmann também sabe que nenhuma cirurgia é prudente se o corpo a ser intervencionado estiver febril. E Weidmann, alinhado com Merkel, não avança qualquer intervenção política para além da medicação que normalize as temperaturas à custa de sangrias, uma terapêutica que, só por si, certamente não curará a Europa.

O texto de Jen Weidmmann não acrescenta nada ao que já se sabe acerca da ortodoxia alemã em matéria de controlo da inflação na Zona Euro. Tudo o resto tem de subordinar-se a este objectivo exclusivo. E o objectivo deste texto é a renovação de um aviso a Hollande, Draghi, Monti, e Rajoy. Em que medida o levarão em conta é o que falta saber para sabermos para onde vai a União Europeia a partir de agora.
 
Cito, resumidamente:

"Agora que os estímulos fiscais atingiram os limites viáveis, as políticas monetárias são vistas frequentemente como o último reduto. Tendo dominado a inflação nas últimas décadas, os bancos centrais têm agora dado substanciais contributos para combater as crises financeira, económica e das dívidas soberanas, e, mesmo assim, pedem-lhes mais. 

O Sistema Monetário Europeu (SME) tem mantido as taxas de juro a níveis reduzidos, injectado liquidez  eefectuado compras de activos em larga escala.

Convém, no entanto, advertir que, contrariamente à muito divulgada ideia, a política monetária não é uma panaceia e o poder de fogo dos bancos centrais é limitado, especialmente numa união monetária. Antes de mais, para proteger a sua independência os bancos centrais na Zona Euro enfrentam evidentes restrições nos riscos que podem assumir.

Por exemplo, se o financiamento concedido pelos bancos não é garantido de forma sólida, os riscos serão pagos pelos contribuintes nacionais. Ora esta transferência implícita está fora das competências dos mandatos dos bancos centrais da Zona Euro. O resgate dos bancos através de impostos pagos pelos contribuintes só pode ser decidido pelos parlamentos nacionais.

O cumprimento das  regras de estabilidade monetária, muitas das quais fazem parte do tratado europeu, não é uma obesessão  legalista: é a chave da aceitação da união monetária pelos cidadãos europeus. Ignorar estas restrições não é uma solução pragmática e os efeitos das suas violações podem ser corrosivos da confiança na moeda única.     

Depois, quaisquer práticas complacentes no futuro terão de ignorar as lições da crise financeira. (...)
A política de juros próximos de zero combinada com a intervenção em larga escala nos mercados financeiros terá efeitos secundários que serão tanto mais severos quanto maior for o período de administração da droga. 

A investigação sugere que a assimetria de políticas monetárias de ajustamento incondicional, para combater a correcção de um excesso no sector financeiro, encoraja a tomada mais agressiva de riscos. Estudos do Banco para as Compensações Internacionais tem consistentemente sublinhada a necessidade da política monetária ser mais simétrica com o ciclo económico de modo a evitar a produção de desequilíbrios que ponham em causa a estabilidade futura.

Ao mesmo tempo que reduziu as taxas de juro, o SME activou um conjunto de medidas que não se coadunam com o propósito único que lhe está atribuido de manter estáveis os preços e garantir a estabilidade financeira ameaçada pela crise.  De tudo isto resulta que os bancos centrais que, antes da crise, injectavam no sistema níveis reduzidos de liquidez, agora estão a substituir ou a dispensar os investidores privados.

Esta prática cria o risco de alguns bancos se tornarem sobretudo dependentes do financiamento do banco central, reduzindo deste modo o incentivo para as reformas necessárias. Até agora os progressos observados em vários países da Zona Euro têm sido debeis, apesar das experiências das crises financeiras do passado, na Suécia e no Japão, por exemplo, nos ensinarem os benefícios da mudança e os perigos de continuar tudo como dantes. Os regularores devem mantar a pressão no sentido dos bancos reestruturarem os seus capitais,  e expurgar os bancos inviáveis.    
Pelas mesmas razões, se for reduzida a pressão sobre as dívidas soberanas nos mercados abrandam-se as medidas de reequilíbrio das finanças públicas em situação precária.  Os desequilíbrios macroeconómicos detectados e os níveis insustentáveis da dívida pública e privada em alguns estados membros estão na origem da crise actual das dívidas soberanas. O apelo ao políticos para se absterem de tomar decisões impopulares e resolver a crise através de políticas monetárias de facilitação deve ser enfrentado pelos bancos centrais. É portanto vital que não haja ambiguidades acerca da natureza temporária das medidas não convencionais que vêm sendo adoptadas.

Para ultrapassar a crise, as medidas de curto prazo devem ser consistentes com a estabilização a longo prazo em que todos estamos empenhados. (...) A política monetária da Zona Euro é conduzida da união monetária como um todo; uma política expansionista para a Alemanha tem de ser conduzida com outros instrumentos nacionais.

 Contudo, isto também implica que as preocupações acerca de uma política menos expansionista na periferia não devem levar os dirigentes políticos a tomarem medidas que possam por em risco os níveis de inflação na Zona Euro. 
Mantendo como seu principal objectivo controlo da inflação é o primeiro requisito para salvaguardar o mais precioso recurso de um banco central: credibilidade.

Em política monetária, como na vida, serás amanhã o que fizeres hoje. 
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