Wednesday, May 30, 2012

NÂO É UM DIAMANTE

Para quem nasceu no seio de uma sociedade livre, a democracia afigura-se-lhe como um valor imperdível mesmo que as principais estruturas do seu travejamento apresentem fissuras expostas e seja frequente rangerem-lhe as articulações. Se o desenvolvimento humano é incipiente ou retrocede, se a justiça não vai além de um arremedo, a democracia estiola e acaba por sucumbir aos pés da demagogia. 

Em grande parte das sociedades mais desenvolvidas,  na Europa, na América do Norte, no Japão, onde a democracia prevalece, o crescimento económico estagna ou é negativo, o desemprego sobe imparável, o sistema financeiro ameaça implodir por ignição dos stocks ainda incalculáveis de activos tóxicos que espoletaram a crise nos EUA que depois se propagou à Europa descobrindo cascatas de vulnerabilidades que como cumulonimbos prenunciam temporais.

A situação política na Grécia e a sua próxima evolução constitui uma ameça à solidez da moeda única, e, por tabela, da zona euro, e até da continuidade da União Europeia, na sua actual configuração. Mas, se as perspectivas futuras dos resultados da roleta grega são angustiantes, a evolução da situação em Espanha e, nomeadamente, a evidência acumulada das fragilidades  do seu sistema financeiro, não é menos preocupante.

Há, portanto, hoje um cocktail feito de desespero dos desempregados a que pode vir juntar-se um caos financeiro global se, para lá da pendência grega se seguir uma onda de impacto com uma dimensão muito superior.

É neste contexto que a dúvida se instala, os demagogos rejubilam, os inimigos da democracia crescem, paulatinamente por agora, eleitoralmente por quase toda a parte, porque aqueles que a crise cilindra não vislumbram o mínimo sinal de um futuro melhor. 

Philip Roth imaginou em "The plot against America" que sociedade norte-americana resultaria de uma vitória de um simpatizante nazi nas eleições presidenciais que, putativamente, teria disputado com Franklin Roosevelt. Inimaginável, considerará quem considerar que as raízes da democracia norte-americana mergulham no ADN de liberdade que mobilizou os colonos que lançaram os alicerces da nação.

Inimaginável mas possível se a democracia permitir que os cidadãos se percam no turbilhão que um terramoto financeiro pode provocar.

Em grego moderno, democracia é apenas um termo antigo. A democracia grega dos tempos modernos é jovem e descuidada. Volúvel, portanto, e disponível para outros encontros. Repito-me: Putin deve andar a rondar-lhe a porta.

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