Friday, April 27, 2012

UM HOMEM PERIGOSO?



François Hollande é hoje protagonista de capa e editorial do Economist. E não o faz por menos do que para classificar Monsieur Hollande como um homem muito perigoso: The rather dangerous Monsieur Hollande. 

E porquê?

Quando ontem escrevi esta nota perguntava-me: Se François Hollande promete ( não ratificar o tratado de controlo do défice e alargar as atribuições do BCE), ganha (as eleições) e Merkel discorda o que é que acontece (à União Europeia)?

O Economist responde (resumidamente):

A França representa metade do motor franco-alemão que conduz a União Europeia, tem sido medianeira na actual crise entre o norte prudente nos gastos e o descontro do sul, entre devedores e credores. E é grande. Se a França for o próximo país a entrar em dificuldades, o euro pode não sobreviver.

Apesar da diferença estreita que o separou de Sarkozy na primeira volta, Hollande provavelmente será eleito a 6 de Maio, a menos que o debate televisivo entre ambos na próxima semana lhe seja claramente desfavorável. Se ganhar, também provavelmente, o seu partido ganhará as legislativas.  

O Economist que se afirmou a favor de Sarkozy nas eleições que o levaram à presidência da França, continua preferi-lo, não pelos seus méritos que encalharam em algumas contradições flagrantes, mas porque considera Hollande uma ameaça ao futuro da União Europeia. A oposição de Hollande à política de aperto fiscal imposta pela Alemanha, que impede a recuperação económica da Zona Euro, seria conveniente se por detrás dessa oposição estivessem as boas razões.

A França tem uma dívida pública elevada que continua a crescer, há 35 anos que o défice orçamental tem sido ininterruptamente negativo, os bancos estão descapitalizados, o desemprego continua persistente e corrosivo e, representando 56% do GNP, o estado francês é o maior da Zona Euro.

O programa de Monsieur Hollande não dá a resposta necesssária a este conjunto de problemas quando outros mambros da Zona Euro estão a por em prática reformas relevantes. Fala muito em justiça social mas ignora a necessida de criar riqueza. Promete reduzir o défice através do aumento de impostos e não da redução da despesa pública. Prometeu admitir mais 60 000 professores, segundo cálculos do próprio, a despesa pública crescerá em consequência das suas propostas 20 biliões de euros em cinco anos.
O Estado será ainda maior. A sua proposta de tributar com uma taxa de 75% os rendimentos mais elevados não terão reflexos relevantes na receita por ser muito reduzida a base de incidência; por outro lado a promessa de voltar a fixar a idade da reforma em 60 anos, contrariando Sarkozy que pretende alargar a idade mínima para 62 anos, beneficiará um número muito reduzido. A França perderá credibilidade junto dos investidores.
.
Que consequências terão as políticas de Monsieur Hollande sobre o resto da Europa? Num primeiro momento, as declarações do candidato sintonizam-se com a vaga de críticas às políticas de austeridade de inspiração alemã que varre o continente desde a Irlanda e Holanda à Itália e Espanha. 

O problema não está na opção por um ajustamento fiscal mais moderado mas pela total recusa de qualquer ajustamento, pretendendo manter o modelo social francês a todo o custo. A menos que haja um recuo de Hollande que permita conciliar projectos à partida tão divergentes entre Hollande e Merkel, o futuro próximo da União Europeia é, mais do que nunca, imprevisível.   

Um em cada três eleitores franceses votaram na primeira volta em Le Pen e Mélechon, que se posicionaram contra o euro e contra a globalização. Na Holanda, Geert Wilders, chefe de fila dos extremistas de direita abandonou o governo por discordar dos cortes orçamentais. Apesar de concordarem com a política de austeridade, os holandeses discordam do modo de atingir esse objectivo. Estas revoltas estão a ecoar em Espanha e Itália. 

Hollande, se persistir em hostilizar a mudança comprometerá a decisão da Europa de prosseguir reformas que permitam a sobrevivência do euro. E isso torna-o um homem perigoso.

No comments: