Tuesday, April 17, 2012

ESTADOS DESUNIDOS DA EUROPA

Perguntei hoje a um jovem grego em quem é que ele vai votar nas próximas eleições gregas, em Maio. Encolheu os ombros, muito desanimado, e disse que não fazia ideia, mas que também não era importante porque considera as eleições uma farsa, o que quer que seja que eles digam e prometam não fará qualquer diferença. (aqui)

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O Economist publicava anteontem este gráfico que correlaciona o nível de endividamento externo de alguns países (entre os quais, Portugal) e os juros das obrigações a 10 anos da dívida soberana desses países. Portugal destaca-se pela negativa.

Houve um tempo em que alguns dos que deviam entender alguma coisa de macroeconomia (entre eles, o governador do Banco de Portugal) venderam a ideia que, a partir do momento em que um país fazia parte de uma união monetária, o problema do endividamento externo simplesmente deixava de existir. Tal ideia bizarra foi música melodiosa para os banqueiros (que medem o sucesso pelos lucros, honorários e bónus que arrecadam) e para os políticos que mostram obra para caçar votos. Rejubilaram, entre outros, os construtores civis, pequenos, grandes e grandessíssimos, para o povo foi uma festa, uma bebedeira em grande, drogou-se a economia. 

E, inevitavelmente, aconteceu a ressaca e a dependência. De quem? Pois, naturalmente, de quem, distraída ou propositadamente, vendeu a droga e, subitamente, reduziu o fornecimento e exige o pagamento do atrasadado com juros insuportáveis. 

Pergunta-se: Mas como é que os EUA, onde a subprime colocou o sistema de patas para o ar já deu a volta e já progride razoavelmente enquanto a União Europeia continua atarantada às arrecuas? Creio que o gráfico é elucidativo: a dívida pública dos EUA é enorme mas é, em termos relativos, essencialmente interna. No caso da Alemanha os empréstimos do estado alemão a outros países ultrapassam os montantes de dívida pública alemã subscritos por estrangeiros.

A diferença é por mais evidente: O gráfico reporta a dívida soberana dos EUA ( e não dos 50 estados monetariamente unidos mas não soberanos) e as dívidas soberanas de estados europeus, soberanos, mas monetariamente desunidos. E esta é uma realidade que explica quase todo o resto. Uma realidade indomável mesmo com "regras de ouro"  porque nenhuma outra regra pode substituir um princípio indispensável a uma união de facto: a união política. Com tudo o que isso implica, a começar pela perda de soberania de cada estado pela sua reunião no conjunto. Mas esta questão, que deveria ser a discussão mais generalizada, continua quase tabu. Um tabu que chega a ser ridículo quando se ouvem alguns nacionalistas serôdios, iracundos contra a perda de soberania e reclamantes contra a falta de liquidez agora que a ressaca ataca.

Repito-me: O futuro da União Europeia pressupõe uma união política consolidada numa federação de estados e num governo federal mínimo. Ou dissolver-se-á. Com todas as consequências dramáticas que essa dissolução arrastará.

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