Friday, March 23, 2012

MORANGOS NO ROSSIO


Ontem, Rossio, ao meio dia.
Em dois pontos separados por duzentos metros, se tanto, dois pontos de venda de morangos, ambos de chapéu de sombra, cor verde, por imposição do município, informa-me um dos vendedores. Morangos espanhóis, de Huelva, ali ao lado de Vila Real de Santo António.

- Não temos morangos portugueses? perguntei
- Temos, mas não chegam.
- E porquê?
- Sei lá porquê.
- Não temos terra?
- Temos.
- Então o que é que falta?
- Olhe falta gente que queira trabalhar.
- Mas o senhor, porque é que o senhor não produz morangos?
- E o senhor produz? Produzir dá muito trabalho. E trabalho é coisa que não agrada. Não vê essa gente toda aí em frente da "manif". Vá lá perguntar-lhes se algum deles estaria disposto a produzir morangos. É o estás!!!"

Há três anos comentei aqui um artigo publicado no Expresso acerca deste mesmo tema: a escassez de morango nacional é apenas um exemplo da nossa dependência alimentar e da gritante incapacidade colectiva para a ultrapassar. Esse comentário remetia para a transcrição, colocada neste caderno de apontamentos uns dias antes, de uma entrevista a Alexandre Soares dos Santos onde o patrão do Pingo Doce afirmava que não se produzia em Portugal morango em quantidade suficiente sequer para abastecer um só dos seus supermercados.

E mais adiante dizia Alexandre Soares dos Santos: "Ainda ninguém me explicou por que foi (a Caixa) comprar a Compal*, em vez de apoiar, por exemplo o associativismo agrícola, onde podia ter um papel muito importante".

Ainda há dias um dos actuais caixeiros (administradores da Caixa) confessava que agora é que a Caixa iria começar a apoiar a economia produtiva. Anteriormente, a Caixa andou a contribuir para o embebedamento do país com construção civil e obras públicas, para além de operações especulativas que, só muito parcialmente, se conhecem.
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*Recentemente soube-se que o Ministério Público acusou um conjunto de sociedades e de gestores da Caixa Geral de Depósitos de burla fiscal, avança o "Económico". Entre os acusados está Jorge Tomé, que é candidato à liderança executiva do Banif. (aqui)

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