Sunday, March 25, 2012

ENTRE O MERCADO E O ESTADO

Poderia ser o título para um apontamento sobre a circulação de políticos retirados (temporiamente ou não) de funções públicas e a sua colocação como Chaiman, CEO, ou vogais de administração em empresas públicas ou privadas interessadas em relações com o Estado. Só entre a Banca e o Estado, e vice-versa, contam-se por dezenas, e a lista continuará  aumentar em cada governo que passa. Anteontem, a notícia da eventual nomeação do ex-ministro das finanças para representante do Estado na administração não executiva da PT quase se sobrepôs à agenda do congresso do PSD. Afinal, parece que, para já, o ex-ministro, não vai poder contar com aquele complemento de vencimento. Justa, ou injusta a decisão, nem me admiraria a tradição nem me espantaria a evolução que neste país é banal observarem as personalidades públicas de bestas a bestiais, e vice-versa, num abrir e fechar de olhos. Contudo,

leio no Expresso/Economia de ontem  que o Governo (anterior, de que o quase nomeado foi ministro das finanças) ignorou proposta de €600 milhões para comprar BPN. João Costa Reis e o fundo de investimento americano Apollo quiseram comprar o BPN e a SLN em 2008 e 2009. Nunca obtiveram resposta.

Não faço a mínima ideia quem é João Costa Reis nem me vou dar ao trabalho de ver se está biografado na Internet. Também desconheço o fundo de investimento Apollo, desconfio dele porque deconfio de todos os, mal designados, fundos de investimento. Partindo, no entanto, do princípio que ao semanário Expresso ainda resta honorabilidade suficiente para não lançar atoardas nem dar abrigo ao primeiro arrivista que lhe bate à porta, esta notícia junta-se a muitas outras que compõem o ramalhete de escândalos com que alimentaram, e continuam a alimentar esse mostrengo ainda chamado BPN que já engoliu, ao que consta, que as contas ainda não estão feitas, mais de 6 mil milhões de euros!

Ora uma parte substancial deste mega escândalo foi acumulado já depois da nacionalização e da entrega da gestão à CGD. Quem nacionalizou, quem incumbiu a Caixa, quem recusou outras alternativas, nomeadamente a de Miguel Cadilhe, então presidente do BPN após a demissão dos culpados ainda por condenar? O ministro das finanças do anterior governo, que os caixeiros (i.e, administradores da Caixa) agora propunham para representação da Caixa na administração da PT, com o beneplácito do actual ministro das finanças.

Estou convencido que Teixeira dos Santos não saiu do governo, logo que as taxas de juro ultrapassaram os 7% que ele, imprevidamente, declarou publicamente como "dead line" e o primeiro-ministro continuou obstinado em não pedir ajuda externa, porque se viu entre  ser visto como conivente com a obstinação de Sócrates e a saída num momento altamente crítico para o país. Mas o BPN é outra história.

O BPN é um escândalo que, aparentemente, ninguém com responsabilidades diretas ou indiretas quer esclarecer. Até agora, o que se tem observado é a adopção do lema do príncipe de Lampedusa: mudar alguma coisa para que tudo fique na mesma. Esta tentada nomeação de Teixeira dos Santos pela administração da casa que continuou alegremente a alimentar o mostrengo pode não ser mais uma tentativa para resolver tudo em família central.

Mas que parece, parece.     

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