Saturday, February 04, 2012

O JOGO DOS BANCOS

Os principais bancos portugueses registaram o ano passado prejuízos significativos, um facto tanto mais relevante quanto ocorre pela primeira vez depois das privatizações da banca há duas décadas atrás: o BCP teve prejuízos de 786 milhões de euros, o BES perdeu 108, 8 milhões, o BPI perdeu 204 milhões, o Santander Totta teve lucros de 64, 1 milhões, a A Caixa Geral de Depósitos ainda não fechou as contas mas, segundo declarações do seu presidente, os resultados serão afectados pela evolução negativa do mercado de capitais.

As razões mais invocadas pelo BCP e BPI  centram-se nos incumprimentos da dívida soberana grega e na entrega ao Estado dos seus fundos de pensões. Razões que merecem ser apreciadas.

Primeira - Como é que se compreende que bancos portugueses tenham enveredado por uma aventura de adquirir dívida soberana de um país que eles não podia desconhecer se encontrar endividado até ao cocuruto? A resposta é simples: Como todos os banqueiros, contaram com a rede do "moral hazard", isto é, a Grécia não vai deixar de pagar a dívida porque, em última instância, pagam os contribuintes gregos. Enganaram-se?  Não. Agora que a Grécia está impossibilitada de pagar porque a carga deitou o burro abaixo, são chamados os contribuintes portugueses a servir de calço aos desequilíbrios dos banqueiros portugueses apanhados pelo tombo do asno.

Segundo - Não foi a transferência dos fundos de pensões dos bancos para o Estado que determinou parte dos prejuízos registados. Se as responsabilidades com os fundos de pensões estivessem provisionadas como deviam, a transferência teria um reflexo nulo no balanço: os activos transferidos seriam equivalentes às responsabilidades endossadas.

Quanto à Caixa Geral de Depósitos, já se sabe: segue a manada e pisa o que a manada deixa pelo caminho.
 
Insisto: Enquanto não forem retirados aos bancos os alvarás para jogos de casino não haverá regulamento que impeça a continuação do jogo iníquo: a banca ganha sempre, uns jogadores ganham outros perdem, mas quem mais perde é quem não joga - os contribuintes.

2 comments:

Pinho Cardão said...

Caro Rui:
Neste post, creio que foste arrastado mais pela "paixão" do que pela razão.
Se posso aceitar a conclusão, não creio que ela tenha alguma coisa a ver com as premissas.
Com efeito, fundos de pensões nada têm a ver com jogos de casino; e aplicações em dívida soberana, ao tempo em que foram feitas,também não.
Adicionalmente, e no que se refere aos bancos citados, não vejo onde é que o contribuinte perde ou perdeu, ou virá a perder. Quem efectivamente perde ou perdeu são os accionistas.
Desculpa lá, mas é o que penso.

rui fonseca said...

Caro António,

Antes de mais, não são devidas desculpas. É um prazer enorme receber aqui os teus contributos.
Como sabes, são os comentários discordantes aqueles que mais aprecio.

Quanto aos fundos de pensões, eu não os classifiquei de jogos de casino. Como é que eu poderia, mesmo sendo levado pela paixão,
que não tenho, fazer uma afirmação tão absurda?

Não. O que eu disse a propósito dos fundos de pensões é que não é verdade que a transferência para o Estado tenha obrigado os bancos a registar prejuízos. Se isso aconteceu é porque as responabilidades transferidas não estavam suficientemente provisionadas.

Referi-me ao jogo de casino, e, neste caso,reafirmo que o "moral hazard" que protege a banca não deveria proteger os negócios especulativos.

Ora os empréstimos à Grécia, feita por bancos portugueses que importaram crédito para o reexportar e ganhar a margem, é especulativo porque se suportou na convicção que a Grécia nunca deixaria de pagar. Enganaram-se? Não. Sentiam a rede por baixo.

É por essa razão que sou da opinião que nunca haverá regulamento bastante (quanto mais regulamento mais criatividade para o ultrapassar) e o que é forçoso haver é a separação dos bancos de depósitos do bancos ditos de investimento.

Enquanto isso não for feito o sistema não será fiável e os contribuintes serão chamados a pagar em última instância.

É o que aconteceu na Grécia, em Portugal, etc.

Abç