Saturday, February 25, 2012

A INFELICIDADE DE NÃO CHEGAR AO FIGO

Geralmente associa-se precisão duma medida à objectividade que lhe está em princípio subjacente. Contudo, o grau de  objectividade possível é aquele que a realidade objecto da medida consente, independentemente dos instrumentos utilizados.

Psicólogos, sociólogos, economistas e outros ditos cientistas sociais, dedicam grande parte da sua vida à observação dos comportamentos humanos, e perseguem insistentemente na tentativa de avaliação da plurifacetada expressão dos mesmos. Um dos temas perseguidos é a avaliação da felicidade dos povos, um tema que está longe de ser apenas uma curiosidade para publicações light porque é assunto central de investigação realizada para a compreensão dos fenómenos sociais de modo diferente dos "mainstream".
Por exemplo, Bruno S. Frey, professor da Universidade de Zurique, autor de "Felicidade - Uma revolução na economia", (2008) traduzido em português para a Gradiva, tem centrado os seus trabalhos dentro de uma perspectiva integradora da ciência política, da psicologia e da sociologia com a economia.

Não admira, portanto, que para além da curiosidade popular que o tema suscita, apareçam de quando em quando trabalhos de avaliação da felicidade dos povos.  Aliás, neste bloco de notas já coloquei vários apontamentos (p.e. este, este, este), entre outros.
Via o Economist desta semana, alcancei aqui o resumo de um relatório da Ipsos, uma empresa britânica de estudos de opinião, resumido graficamente a seguir:



É surpreendente que indonésios e indianos, por exemplo, se sintam mais felizes, de um modo geral, que os alemães, os franceses, os italianos, e outros povos onde o grau de desenvolvimento humano, segundo o PNUD, Programa para o Desenvolvimento das Nações Unidas é dos mais elevados no mundo? Refiro o PNUD e não o PIB/per capita considerado no estudo da Ipsos por aquele indicador considerar outros parâmetros (educação, saúde) para além do rendimento médio. Mas as conclusões não são significativamente diferentes, considerando um ou outro dos índices.

Os portugueses não foram abrangidos, presumo. Se fossem, provavelmente, estariam na cauda do pelotão.

As conclusões do estudo em questão são discutíveis e outros estudos haverá com conclusões algo diferentes.

Mas representam, devem representar, um contributo para a humanidade repensar os caminhos para onde a conduzem os indicadores de avaliação do progresso, esses sim, geralmente tidos por indiscutíveis mas que estão a conduzir a alguns resultados pavorosos.  

Sustentando-se a ideia do crescimento económico e social no crescimento do consumo, a confrontação dos que não têm capacidade de acesso aquilo que as televiões, as rádios, os cartazes, a internet, os cartões de crédito, os bancos, promovem até à exaustão, a infelicidade mede-se também pela diferença entre a exposição à tentação de comer um figo e a frustração da falta de altura para o apanhar.

Segundo a filosofia popular, o problema para o minorca agudiza-se se tem por perto um matulão interessado na  figueira.

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