Friday, December 30, 2011

QUO VADIS, 2012?

A Comissão Europeia divulgou um relatório sobre o impacto das medidas de austeridade nos países sujeitos a programas de redução do défice orçamental e da despesa pública, condicionantes da ajuda externa a que esses países foram recorreram, e naqueles que de motu proprio se sujeitaram a medidas com os mesmos propósitos.

The distribunional effects of austerity measures: a comparison of six EU countries, sucintamente analisado aqui, conclui que em Portugal a agressividade de tais medidas até Junho de 2011 foi a mais profunda no conjunto dos países comparados. Se considerarmos que, naquela altura, ainda não se faziam sentir os efeitos das medidas previstas no memorando de entendimento assinado em Maio, se considerarmos que esses efeitos se sentirão estrondosamente no ano que começa depois de amanhã, onde estará a economia portuguesa daqui a um ano?

Durante a campanha eleitoral, a redução da TSU foi arvorada como o santo e a senha de uma entrada num ciclo de reanimação da economia portuguesa. Antes disso, e durante alguns meses, parecia haver quase unanimidade que se tinham percorrido caminho errados durante uma década, os sectores protegidos tinham prosperado, os transacionáveis definhado, as exportações estagnado, as importações explodido, a dívida, pública e privada, tinham atingido níveis sufocantes, não havia dúvidas, tínhamos de arrepiar caminho.

O que foi feito até agora? Dizem os relatórios que o calendário dos compromissos com a troica está a ser (quase) cumprido, caiu a TSU mas haverá mais dias de trabalho. Chegará?

Os sindicatos (leia-se CGTP, leia-se PCP) revoltam-se em manifestações cordatas contra as medidas anunciadas e reclamam medidas  que atinjam outros e não os mesmos de sempre, a austeridade é percebida como uma consequência de uma amarra, que é preciso cortar, chamada euro. Chegará?

No dia, se esse dia acontecer, em que voltarmos ao escudo o que acontecerá aos salários das classes trabalhadoras que os sindicatos devem defender? Só podem baixar em termos reais. Se, por um fenómeno estranho que não vislumbro, se mantivessem ou subissem não haveria recuperação da competitividade monetária que o retorno a uma moeda própria (leia-se com possibilidade de emissão ilimitada) permite.

Mas é inquestinável, por outro lado, que Portugal não tem hipóteses de reduzir a dívida pública (quem é que falou em pagar?) nem os cidadãos endividados capacidade para honrar os seus compromissos se a economia não cresce e os juros não baixam para níveis suportáveis.

De modo que: Ou o professor Gaspar tem jeito e engenho para negociar a redução da carga com que nos carregámos e os credores sobrecarregam e o professor Álvaro melhores ideias para reenquadrar o tecido económico, ou daqui a um ano a austeridade colocou este governo fora de jogo e Portugal de patas para o ar.

E em 2013 sairemos do euro, sem saber para quê, mas porque não saberemos fazer outra coisa.

2 comments:

Anonymous said...

Continuo sem perceber para que servem estas medidas. Porque que é que a troika necessita de impor estas medidas para manter o financiamento. SE estas medidas em concreto não traduzem uma mais valia em produção de riqueza para que servem? A competitividade dos nossos agentes económicos se dependessem dos baixos salários e de mais horas de trabalho já teria ressaltado há muito neste país. Não somos dos paises da União o que tem salários mais baixos e dos que trabalham mais horas por dia?
Devem existir pois mais factores dos quais depende a competitividade da nossa economia. Será que modernizamos suficientemente as nossas unidades produtivas? Será que temos em mão gestões mais dinâmicas e ageis capazes de enfrentarem as mudanças constantes da economia moderna? O trabalho continua a ser o factor primordial na criação de riqueza. Ao se desvalorizar o trabalho está-se a retroceder civilizacionalmente procurando ser competitivo aonde já se encontram parceiros melhores situados e com potencial humano capaz de cilindrar qualquer um. As sociedades mais evoluidas, por razões históricas, as que iniciaram este processo evolutivo em termos económicos, sociais e culturais, possuem factores competitivos diferentes das sociedades que iniciaram agora este processo. A globalização da economia não pode nem deve focalizar-se só nos aspectos da produtividade, mas englobar todos os factores que condicionam a actividade económica e as suas interrelações com as sociedades a que pertencem. Uma unidade produtiva está na interdependência do nucleo social aonde está inserida numa primeira análise, apesar de poder fabricar produtos para o mercado global, mas enquanto unidade produtora não tem cariz global. A deslocalização das unidades produtivas para áreas geográficas de mão de obra mais barata, não produzem produtos mais baratos em termos de mercado global, pois os produtos mantém o valor dentro dos diferentes mercados ( os computadores da Apple mantém os preços gerados pelo valor do mercado aonde foram inseridos, apesar de serem produzidos a valor mais reduzido quando as linhas de produção se deslocalizaram para a China). Aquilo que poderia parecer um factor de competitividade, o preço mais baixo, tornou-se num factor de ganância desmedida, aproveitando as mais valias da mão de obra mais barata. Desvirtuou-se um dos pilares do mercado livre, em que o valor do produto dependia sobretudo do trabalho despendido na sua produção. Não é de admirar que a Apple se tenha tornado no protento empresarial sem dominar ainda o mercado.

Anonymous said...

As empresas actualmente ao gerarem mais valias de valores exagerados, desviam estes capitais para o sector especulativo financeiro no intuito de gerar mais dinheiro. Verifica-se pois uma desregulação global quer do sector produtivo, dos mercados e do seector financeiro, na procura de mais e mais riqueza esquecendo as pessoas e o trabalho como os unicos factores geradores de riqueza. Nunca se produziu tanta riqueza no mundo como nesta ultima década mas também nunca a distribuição da riqueza mundial foi tão dispar, encontrando-se concentrada em meia duzia de pessoas. Parece que estamos a assistir á fábula da galinha de ovos de ouro. Ao se querer os ovos todos, neste caso ao querer ficar com toda a riqueza produzida, estamos a matar o que mantém os mercados a funcionar. Sem capacidade económica as populações deixam de consumir, levando a uma recessão dos mercados. A relação local dos meios de produção e das sociedades que os compõem, ao mesmo tempo produtores ou sejam geradores de mão de obra são também consumidores. A máquina produtiva evolui naturalmente quando geradora de riqueza, esta seja harmoniosamente distribuida pelos diferentes elementos que constitui a sociadade envolvente aonde se encontra inserida. É esta realidade que a globalização não pode esquecer, a evolução das sociedades faz-se sobretudo pela distribuição harmoniosa da riqueza que é produzida. A concentração da riqueza só pode levar ao fim das sociedades e ao retrocesso civilizacional com consequências desastrosas e imprevisiveis.
Esta divagação toda para tentar perceber as medidas da troica e chegar à conclusão que apesar dos paradigmas existentes nas sociedades actuais em que a lingugem marxista pode se encontrar desactualizada ou ser menos explicita ( como dizia à dias o Victor Gaspar para um deputado comunista) o que se torna evidente e ressalta destas decisões todas é que se assiste nos dias de hoje e de uma maneira mais brutal e desumana a uma luta de classes em que os mais ricos querem ser cada vez mais ricos e os mais pobres cada vez mais pobres. O controlo que existe hoje por parte do grande capital dos diferentes governos da Europa reflete-se nos modelos tirados a fotocópia um dos outros e isto a propósito da noticia de hoje sobre a situação de Espanha. O défite não foi os 6% esperados foram 8% pelo que vão ser tomadas medidas excepcionais para fazer face ao défite como seja congelar salários, aumentar as cargas horárias de trabalho, aumentar impostos,etc...mas aonde é que eu já ouvi isto?