Monday, December 05, 2011

O MILAGRE DA MULTIPLICAÇÃO DOS EUROS*

Tinha de ser numa sexta-feira ao fim da tarde. Eram seis horas em Lisboa, cinco em Ponta Delgada.
Para ser mais preciso, a coisa não aconteceu subitamente, o anúncio do fim vinha a ser anunciado há já largos meses por analistas, economistas ou simplesmente achistas de toda a parte.  A Fitch, um dos três reis tingues, não lhe dignosticara o fim mas, em todo o caso, prevenira que seria avisado preparem-se planos de contingência para a eventualidade. Como? Disse que não sabia.

Após reuniões intensas, os dois do directório não chegaram a acordo para avançar, os outros quinze ficaram sem saber que fazer, os outros dez encolheram os ombros, e como o comboio não podia ficar parado, foram dadas instruções para recuar para a estação anterior. Então, às seis da tarde de sexta-feira, hora de Lisboa, foram conhecidos os procedimentos para  a manobra de recuo e o euro, sumiu-se e multiplicou-se. Como?

Respondem os manuais de procedimentos: A partir de hoje, sexta-feira, pelas seis horas da tarde, todos os registos em euros passarão a ser considerados, pelo mesmo número de unidades, em euros locais. Deste modo, um depósito a prazo, ou à ordem, uma transferência em curso, uma factura a pagar, uma quota a receber, etc., passam a denominar-se em Portugal em euros portugueses. Se o depósito a prazo é de cinco mil euros passará a ser de cinco mil euros portugueses. Em Espanha, a mesma coisa, mas, evidentemente, lá serão euros espanhóis que contam. A quem chegue aqui e comece a considerar esta história sem pés nem cabeça, peço que verifique que dólares há vários: americano, canadiano, australiano, namibiano, hongkonguense, singapurense, taiwanês, zimbabuense, neozelandês.

Como moeda de referência nos pagmentos internacionais volta-se ao euro antes de 2000: um cabaz dos diferentes euros locais, onde o peso relativo de cada euro local no cabaz é proporcional ao peso da economia respectiva. As rotativas ficam autorizadas a trabalhar dentro de uma banda que não desvalorize cada euro local em mais de 20% do valor de referência.

Dito de outro modo, um depósito de cinco mil euros actuais passa a valer em Portugal, muito provavelmente 80 a 85% do euro de referência nos dias seguintes à sexta feira do big down e 50% do euro alemão.

Os euros em notas e moedas (uma ínfima parte da moeda total em circulação) terão a cotação do euro de referência e curso legal enquanto não forem substituidos pelas moedas locais.

Quem ganha, quem perde, com o milagre da multiplicação dos euros, cada um que faça as contas. Eu perco.
Mas, milagre feito não volta a trás.
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*Este texto é mera especulação. Não tem fundamento em qualquer fonte para além da imaginação do autor numa manhã fria e cinzenta.

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