Sunday, July 31, 2011

DESCONFIANÇA GLOBAL

30 JUL 2911

O Presidente do BPI disse numa conferência recente (Fórum da Banca) que enquanto se lembrar do que o mercado de capitais lhe fez não quer voltar ao mercado de capitais.

E acrescentou: “ Nunca ninguém nos disse que não estávamos a gerir adequadamente o banco. E, a determinada altura, o mercado desapareceu (…) Em 2007, o BPI tinha um rácio de “core capital” de 5%, rendibilidade dos capitais próprios de 22% e “rating” da Moody´s de A+. Hoje tem um rácio de capital que é quase do dobro (9%), rendibilidade inferior a 10% e um “rating” de BBB, pouco acima de junk (…) O capital não garante bom “rating” (então) mais capital para quê? (…) e foi isso que a troca não entendeu, criando o risco de o País precisar de mais ajuda do que aquela que precisaria caso exigisse aos bancos portugueses os mesmos rácios que são impostos nos países não intervencionados. Num quadro destes, pode ter criado a inevitabilidade das nacionalizações parciais com os 12 mil milhões de euros que emprestou ao País”.

A questão do crédito, como Ulrich sabe tão bem como qualquer outro banqueiro, está para lá dos valores dos balanços, dos bancos ou das empresas não financeiras, e decorre do graus da confiança dos credores na capacidade dos devedores honrarem as suas dívidas nos prazos acordados. No limite, a um banqueiro não seria necessário um cêntimo para estabelecer banca se quem lhe confiasse o seu dinheiro tivesse a garantia real que seria infalivelmente reembolsado nos termos contratados.

Acontece que a banca portuguesa se encontra extremamente vulnerabilizada pela exposição a que se submeteu em dívida soberana, principalmente, portuguesa e grega. Para além, evidentemente, das imparidades (um termo praticamente desconhecido em 2007) só muito parcialmente reconhecidas nos balanços de créditos a empresas e famílias, um gato escondido que a troica facilmente detectou pelo rabo exposto.

A banca, não só em Portugal mas também em Portugal, encontrou na dívida soberana, directa ou indirectamente, nas produções protegidas da concorrência externa, na construção civil e obras públicas, um meio confortável e supostamente seguro de exibir lucros explêndidos que garantiam aos banqueiros rendimentos estratosféricos e aos bancários ordenados invejáveis.

Um dia, já lá vão muitos anos, disse a Ulrich que de tanto ordenhar a vaca escanzelada, o animal cairia mais tarde ou mais cedo em cima do ordenhador. Respondeu-me que os bancos não poderiam falir.

Percebe-se o desconforto de Ulrich, mesmo que ao BPI tenha sido reconhecida a melhor solidez de entre os bancos portugueses, incluindo a CGD, no recente teste de stress que envolveu os maiores bancos da EU, mas a banca portuguesa, para além de outras eventuais razões de queixa, só pode queixar-se de si própria na medida em que durante anos definiu a sua política em função dos resultados esperados de curto prazo, sem ter querido reparar que o estado português caminhava para uma situação financeiramente insustentável e a economia real, a vaca, cada vez mais escanzelada.
As árvores não crescem até aos céus, e as dívidas também não.

Como é que os banqueiros não sabiam isso?

Claro que sabiam. Mas não quiseram saber. Agora, desconfiam todos uns dos outros.

E o que mais intriga é que quanto ao cerne da questão, no sistema continua tudo como dantes.

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