Monday, June 20, 2011

TIQUES DE REJEIÇÃO CULTURAL

Grüezi!
Passam por nós, não nos conhecemos, mas saúdam sempre: Grüezi! 
Era também assim na minha aldeia, há cinquenta anos. Agora,quando atravesso a vila (foi promovida a vila, não sei bem porquê) sinto-me um estranho em casa. As pessoas passam, e são raras as que nos olham para dizer bom dia!
Como na cidade. Habitam o mesmo prédio de apartamentos durante décadas e, até no elevador, uns olham para o tecto, outros para o chão.

Aqui, passo, e é uma constante: Grüezi! Grüezi!
Ali em cima, cultiva-se em pequenos territórios, com bandeira hasteada, batata, tomate, alface, framboesa, groselha, cada um o que lhe dá na real gana ou lhe serve melhor a economia doméstica. São suíços, alemães, italianos, portugueses, cada qual com a sua bandeira, a sua casota, e a sua horta à volta. Durante os fins-de-semana vêm os mais jovens, trazem os filhotes que, deste modo, ficam a saber bem cedo como crescem as hortaliças. Durante a semana vêm os seniores apanhar sol e regalarem-se com os cultivos. 

Também houve tempo que, na minha aldeia, era assim. Quem não agricultava, chegava a casa, mudava de roupa, e ia tratar da horta. Agora nem há quem agriculte nem horticultive. Ou, se há, são casos raros para confirmar a regra. Os campos estão abandonados e nem os pardais encontram que se coma. Aqueles que ainda cuidam de umas árvores têm de sustentar a passarada toda. 

A caminho de Sintra, são os cabo verdeanos quem se encarapitam nas encostas o IC 19 para plantar batatas, semear favas, ervilhas, até milho, que dificilmente sobrevivem aos calores de Junho. Por que não  cedem as autarquias terrenos municipais devolutos onde possa cultivar uma horta quem gostar ou precisar de o fazer? Nunca ninguém pensou nisso?

Evidentemente, a autosuficiência alimentar do país não passa por estas micro-produções, mas o seu impacto na economia não deveria ser menosprezado tanto mais que, quando alguém cultiva uma horta, não tem tempo para o passeio dos tristes, poluindo o ambiente e consumindo crude que não produzimos. Tiques de rejeição cultural que fazem de Portugal um país de envergonhados do país onde nasceram.

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