Tuesday, March 15, 2011

A QUARTA CRISE

Já tínhamos em cima a nossa crise económica, a nossa crise financeira, a crise financeira global, agora aguarda-se o agudizar da nossa crise política. É crise a mais.

Nestas questões de crise, mais do que discutir as causas e consensualizar terapêuticas, o que mobiliza a opinião pública é a guerrilha político-partidária para atribuição de culpados. Numa altura em que, mais do que nunca nas décadas mais recentes, se impunha um cerrar de fileiras para o defesa contra as ameças que impendem sobre o país, observa-se um acirramento do confronto partidário procurando cada um dos actores assacar aos outros a responsabilidade da crise política e tirar proveito eleitoral dela.

O Primeiro-Ministro, a quem competia reconhecer, nestas circunstâncias, a inviabilidade política de governar sem suporte maioritário parlamentar, capricha em exibir despudoradamente a sua autosuficiência e a sua falta de rigor democrático. Ao ignorar o Presidente da República, a Assembleia da República, os parceiros sociais, e os outros partidos, nomeadamente o PSD que tem permitido passar os PEC e OE2011, e avançar com compromissos junto de Merkel & Cª., que, por mais imperiosos e inadiáveis que sejam, não podem ser ocultados aos portugueses, Sócrates, que prima pela programação das suas actividades políticas, só engana quem quer ser enganado ao clamar que não deseja esta crise. E que a culpa será daqueles que, por sofreguidão de poder, para usar a sua expressão, não lhe respaldarem os compromissos que assumiu em nome dos portugueses sem ouvir ninguém.  

PCP e BE, vêm a crise política em perspectiva, prenunciadora de eleições antecipadas, como uma oportunidade para cavalgar a onda descontentamento porque não são nem querem ser candidatos a governar. Repetem até à exaustão que lutam contra os interesses coligados da direita, onde incluem o PS, e demonizam toda e qualquer consensualização que possa tornar a governação viável. Vivem nas margens da democracia retirando proveitos da sua complacência. 

Pelo PSD e CDS perpassam, ao lado da contenção e sentido das realidades de alguns, a sofreguidão do poder de outros, de que fala Sócrates. São perigosos porque podem fazer pender a evolução da crise para eleições antecipadas das quais não resultará, seguramente, nenhuma solução que garanta o suporte parlamentar maioritário que a situação requer se excluir o PS, o PSD e, preferivelmente, o CDS. Se se considerar que uma coligação à esquerda (PS/PCP/BE) continuaria a não ser viável nem seria bem acolhida pelos outros parceiros europeus. 

Finalmente, o PR. 
Não sabemos porque elegemos um PR por voto directo que, nas actuais circunstâncias, continua manietado pelos poderes obtusos, por se localizarem nos extremos, que a Constituição que ele jurou cumprir lhe confere.  

Afigura-se-me, no entanto, na linha do que neste caderno venho há muito tempo a apontar, que Cavaco Silva não deveria deixar que a situação se encaminhasse para eleições antecipadas e deveria convocar o Primeiro-Ministro e os partidos para a construção de uma base de apoio parlamentar suportada no actual quadro parlamentar. E só se essa tentativa, que deveria ser muito transparente e do conhecimento dos portugueses, se mostrasse inviável, deveria dissolver a Assembleia da República.   

Se o não fizer, Portugal arrisca-se a continuar sem um governo com suporte político suficiente para mudar de rumo. E Cavaco Silva acabará por ser envolvido na responsabilidade pela crise.

5 comments:

fcaja said...

Concordo com grande parte do que escreveu, Cavaco Silva já há muito que devia ter procurado um entendimento entre os dois principais partidos PS e PSD, não o fez e após o seu discurso pouco manobra tem para o fazer!
Cavaco e Sócrates mais parecem dois meninos com birras, o primeiro e procurar a entalar quem ainda é Primeiro Ministro e o segunda a responder na mesma moeda, a quem acaba de ser eleito Presidente.
Cavaco, Sócrates e Passos Coelho estão a brincar com o fogo e nós todos, estamos a sair queimados. O PSD não aceita reformas que vêm do governo, não apresenta alternativas nenhumas e depois quando passar para o governo, o que é que vai fazer?
Se o PSD não aceitar este PEC4, a curto prazo não há dinheiro para pagar os vencimentos do funcionários públicos e não só e, mais tarde vai de ter que aceitar um muito pior!

rui fonseca said...

"O PSD não aceita reformas que vêm do governo, não apresenta alternativas nenhumas e depois quando passar para o governo, o que é que vai fazer?"

Sozinho não vai poder fazer grande coisa. Fica com o tição na mão e ficará esturricado dentro de pouco tempo.

Há muito tempo que venho dizendo isto. Lamentavelmente há quem no PSD não entenda que não podem, se forem governo, adoptar uma suficiência que caracteriza Sócrates.

LEOLEO said...

" Uma base de apoio suportada pelo actual quadro parlamentar"
Tendo comprovadamente um Primeiro Ministro que mente, é arrogante, para já não falar de questões de competencia e boa governação, que essas são subjectivas, notoriamente procura a crise,como se pode pensar em base de apoio para essa gente que se auto exclui da chamada vivencia democrática?

fcaja said...

Quem se exclui da vivência democrática é BE, o PCP e agora o CDS. Mentir é uma característica de todos os políticos, uns mais outros menos, competência e boa governação também já foi uma prática do Sócrates, agora está mais difícil porque está com um governo minoritário!..
Para enfrentar certos extractos sociais só com arrogância..(Juizes, professores, militares, médicos e demais....)
Sem um entendimento PS e PSD não se sai do buraco!
Chega de ódio, ele vai ganhar outra vez!!!

LEOLEO said...

" ele vai ganhar outra vez"

agora é que percebi que se falava do F C do Porto