Thursday, September 30, 2010

ANGÚSTIA PARA O JANTAR

O anúncio de mais medidas de contenção do défice e da dívida pública chegaram ontem à hora de jantar.
Demasiado duras, porque tardias, segundo a generalidade dos comentadores.
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O PM decidiu avançar, corajosamente segundo os seus partidários, atrasadamente segundo os seus opositores, para o anúncio de medidas que possam acalmar os credores e baixar os juros. Não tinha alternativa.

Mas tinha dois caminhos para lá chegar. Ou recorria ao Fundo Europeu de Resgate e entrava o FMI, conforme lhe sugeriam de vários lados, ou anunciava medidas à FMI e colocava à oposição (leia-se, neste caso, PSD) a decisão final sobre a sua adopção. Nogueira Leite, outro erro de casting do PSD, apressou-se a, mais uma vez, atribuir as medidas anunciadas à incompetência do Governo e a renovar a recusa de mais impostos. De qualquer modo, do seu discurso meio entaramelado pareceu descortinar-se a abertura para viabilizar a aprovação do OE 2011 sustentado nestas medidas: afirmou que a discussão final deve ser feita no Parlamento, onde o PSD irá abster-se depois de ad nauseam protestar contra mais este aumento de impostos.

Ao avançar pela proposta que implica uma redução da despesa que é mais do que dupla do que o aumento da receita resultante do agravamento do IVA e dos cortes nas isenções fiscais, o PM coloca o imbróglio no campo do PSD, que, agora, dificilmente poderá propor mais reduções na despesa para 2011 que possam evitar o aumento de impostos. Resta ao PSD protestar e abster-se.

Se o não fizer, e o PM não deverá estar particularmente interessado que o faça, não haverá OE 2011, o Governo demite-se, a crise abafa-nos e o PSD será responsabilizado pela opinião pública.  

Por agora o FMI não será convocado. A sua entrada, que determinaria a tomada de medidas idênticas, castigaria o Governo e desresponsabilizaria o PSD. Sócrates não lhes permitiu essa comodidade transitória.

Em todo o caso: Uma coisa é anunciar, outra aprovar e outra executar. Orgulhosamente minoritário, o Governo do PS muito dificilmente escapará à fúria dos atingidos, que são quase todos os eleitores em próximas eleições.

Por outro lado, o PR continua a avançar por entre os pingos na esperança que a tromba de água que se anuncia não desabe tão cedo.

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