Thursday, April 22, 2010

UMA MÃO CHEIA DE INTOLERÂNCIA

Ontem, no Parlamento, o ministro da economia esteve visivelmente colérico ao comentar a proposta do PSD de introdução de algumas alterações de critérios de escolha das medidas a adoptar no âmbito do PEC e, liminarmente, pretendeu reduzi-las a pó: "são uma mão cheia de nada", no entender do ministro. Em tonalidades diferentes afinaram as outras bancadas da oposição: segunda umas, porque a proposta do PSD mais não era do que uma continuação das medidas do governo, para outra, porque repescava serodiamente o que eles já tinham proposto antes.
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Ouvem-se os representantes do povo e não é difícil perceber que, mesmo numa altura extremamente crítica da situação económica e financeira do País, aquela gente se julga ainda (ou já?) em campanha eleitoral. Porque se existem no âmbito da Assembleia da República comissões especializadas, e uma delas é a de economia e finanças, porque razão não se reunem os deputados, e apreciam, discutem e concertam as medidas consensualmente mais adequadas? Porque razão vêm acusar-se mutuamente em plenário a ignorância de uns e outros acerca dos valores que estão ou não estão considerados no PEC e no OE? Só há uma explicação: por razões de interesses meramente partidário a que a televisão dá palco.
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O País, está dito e redito, encontra-se numa situação dramática. Quanto maior for o espectáculo de conflitualidade partidária e social maiores serão os juros exigidos pelos credores. Há que reduzir a dívida pública mas, sobretudo há que reduzir a dívida externa, reequilibrando a balança comercial, objectivos de realização complicadíssima que sem um compromisso social e politicamente alargado não serão atingíveis e o barco em que todos estamos metidos afundar-se-á.
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Para reequilibrar as contas públicas não é suficiente nem desejável aumentar a carga fiscal, é forçoso reduzir a despesa exigindo maior eficiência e qualidade aos serviços prestados pelos orgãos centrais e locais do estado. Mas isso impõe um consenso pelo menos maioritário acerca das medidas a tomar. O PEC foi aprovado com a abstenção do PSD e a Comissão Europeia aprovou os objectivos nele fixados mas não rejeita que se modifiquem os meios a utilizar para os atingir.
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As palavras do ministro Vieira da Silva de ontem não auguram nada de bom para a economia e as finanças públicas portuguesas num futuro muito perto de nós.

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