Thursday, April 08, 2010

MEXIA MILHÕES

Há nestes casos das remunerações e bónus dos administradores das grandes empresas, e nomeadamente das empresas públicas ou com participação relevante de capitais públicos, um argumento que inquina à partida toda a discussão descomprometida que a questão possa suscitar: que os valores atribuidos, por mais excessivos que possam ser considerados pelo opinião pública, são legítimos e devidos porque são decididos em assembleias gerais de accionistas das sociedades.
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Mas o argumento é um sofisma porque as assembleias de accionistas decidem em função de interessses cruzados dos seus principais accionistas e dos gestores que eles nomeiam e cruzadamente se premeiam.
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Escrevo isto e ouço dizer na televisão a um comentador das quintas-feiras que esse cruzamento de interesses não se observa em Portugal. Mas observa, senhor comentador, o senhor comentador é que não quer observar.
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E não é verdade que a quest
ão se coloca agora porque a crise suscita posições demagógicas e oportunistas. Até aqui no Aliás, já há dois anos, comentei aqui e aqui em sequência de declarações do Presidente da República sobre a questão.
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Por outro lado, as empresas que são monopólios de facto realizam os resultados* que os reguladores lhes consentem. E os reguladores, já se sabe, são capturáveis.
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*Resultados que em vários casos dependem ainda dos subsídios ou outros benefícios que o Estado lhes concede.

3 comments:

Isabel Ferreira said...

"Mas observa, senhor comentador, o senhor comentador é que não quer observar."
Como,de resto,seria de esperar o país continua a perder pela sede de ignorância. Entretanto outros ganham-no, e não é pouco.

Argumentos vazios e desculpas nas costas da crise?
Até quando?

rui fonseca said...

Até quando?

Até quando deixarmos.

Isabel Ferreira said...

Sabe, o pior cego é aquele que não quer ver.
E os portugueses parecem incluir-se cada vez mais, ou se calhar é só impressão minha.

Fique bem, parabéns pelo post e pelo blog,
Excelente!