Monday, April 12, 2010

FAIT DIVERS

Quando o Augusto e a Belmira se casaram, vinte paus não era uma fortuna mas era dinheiro para quem tinha pouco. Era Agosto e daí a três meses casava-se o primo Zé com a Julieta.
Naquele tempo e naquelas paragens, os convites para os casórios faziam-se pessoalmente, os noivos entregavam uma travessa de arroz doce aos convidados e recebiam destes uma prenda uns dias depois, o mais tardar no próprio dia do casamento.
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Andou o Zé a fazer contas à vida, com o seu casamento à porta, todos os trocos eram poucos para as despesas ainda que fosse tudo gente poupada. O que é que lhes vou oferecer, o que é que não lhes vou oferecer, a prenda de casamento do primo estava a atormentá-lo mais que os preparativos do seu. Tanto, que chegado o dia da boda ainda não tinha a decisão tomada.
À última hora meteu uma nota de vinte ao bolso, e quando a cerimónia terminou deu um abraço ao primo Augusto e passou-lhe a nota como prenda.
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Três meses depois casou-se o Zé, e o Augusto não hesitou: levou a nota no bolso e devolveu-a ao primo*.
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Não sei se a Grécia* será assim de tão boas contas.
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**Para além do lado anedótico desta estória, há uma constatação mais séria: As ofertas envolvendo a mesma nota (ou duas de igual valor) entre o Augusto e o Zé foram a que maximizaram a utilidade do valor monetário envolvido para ambas as partes.
Segundo estudos referidos num artigo do Economist , que anotei aqui , qualquer oferta tem para quem recebe geralmente um valor monetário percepcionado menor do que o seu preço de aquisição. No caso do do Augusto e do Zé esta conclusão é irrebatível. Tanto para um como para outro qualquer oferta representaria uma perda de valor.
Esperemos que a Grécia não nos venha a reembolsar com pistácios.

3 comments:

António said...

Pode ir encomendado as bejecas para empurrar aos ditos cujos.
Estava à espera de quê?
Um país destes, com uma dívida externa colossal, vai contrair um empréstimo para emprestar a outros?
Estes tipos sabem muito de finanças, mas como não são eles que pagam...
Ou pelo menos a eles não lhes custa.

rui fonseca said...

"contrair um empréstimo para emprestar a outros?"

Desde que eles devolvam daqui a três meses...
Os vinte escudos para o Augusto fizeram-lhe muita falta mas prenda é prenda. E o Zé não se esqueceu de os devolver.
Faz parte do jogo.

António said...

Devolvem a quem? Vai-se evaporar por aí...