Friday, February 26, 2010

A LATA DA CAIXA

A redução dos rendimentos dos portugueses (e não só dos salários, porquê apenas dos salários?) ou se faz de uma forma abrupta ou é resultante do empobrecimento prolongado. Não parece existir alternativa menos gravosa para a saída do beco em que nos enfiaram, ou nos deixámos enfiar. No primeiro caso, a solução seria socialmente mais justa e melhor direccionada para a recuperação da competitividade perdida pelos sectores produtores de bens e serviços transaccionáveis.
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Mas a adopção dessa medida, susceptível de gerar conflitos sociais dramáticos, só poderia ser levada a bom termo por um governo maioritário pluripartidário, como já várias vezes anotei neste caderno de apontamentos, e deveria ser geral, exceptuando apenas os rendimentos mais baixos.
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A notícia de hoje do Jornal de Negócios* da intenção da administração da CGD pedir o "estatuto de excepção" só prova que os responsáveis pelo banco do Estado estão longe de perceber as dificuldades por que passa o país, uma parte significativa das quais resultou do comportamento de rebanho da Caixa no contexto do sistema financeiro português.
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Por quê a excepção? Terá o senhor Ministro das Finanças a coragem de dizer aos administradores da Caixa que o sector financeiro tem sugado os sectores produtivos, que têm de mostrar no mercado o que valem? E que a Caixa se tem comportado como se nenhuma obrigação lhe coubesse no encaminhamento mais adequado das poupanças dos portugueses para os sectores essenciais ao crescimento económico e social sustentado? E que, pelo contrário, a Caixa tem privilegiado os sectores especulativos (na construção civil, potenciando de vários modos a especulação imobiliária) e os monopólios de facto, de um modo ou de outro já favorecidos por incentivos vários? Que a redução geral de rendimentos se impõe porque também a Caixa se apropriou muito mais do que devia de um bolo global que não cresceu nos últimos doze anos?
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2 comments:

António said...

Bom dia.
Boa apreciação da coisa.
a Tap, empresa que gera lucros fabulosos e continua a sugar-nos o sangue para manter as estalecas todas em cima também vai aumentar. Merecem todos. A cp, a rtp e as rádios nacionais, com uma programação que só eles sintonizam, também merece.
Todos merecem, menos os que produzem.
Quanto à produtividade, você sabia que há um boy na pt que sozinho ganha tanto como 2500 funcionários que tenham de se esfalfar para ganhar 1000 euros por mês? Muito deve produzir esse rapazito. Os outros 2500 é que não produzem nada. Daí a tal coisa da nossa produtividade ser o que é.
Quando voltar a fazer contas, não se esqueça destes exemplos.

rui fonseca said...

" Muito deve produzir esse rapazito. Os outros 2500 é que não produzem nada. Daí a tal coisa da nossa produtividade ser o que é."

Concordo plenamente consigo. O conceito de produtividade geralmente utilizado é um logro.