Sunday, July 26, 2009

ACERCA DA (DES)NECESSIDADE DAS CONTAS

Os economistas desentenderam-se ainda mais com a emergência da crise. Se já havia fissuras no edifício, a crise derrubou uma parte significativa dele: a macroeconomia. De um dia para o outro, aquilo que dava à arte alguma reputação científica - a análise quantitativa -, foi mandada às malvas pelos que imputaram ao neo liberalismo, à sua fé no princípio do equilíbrio dos mercados, e nos modelos econométricos em que se baseavam, as culpas de ter causado a crise.
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Entre nós, onde a aversão às contas até chega a ser considerado um must, os cálculos nunca foram levados a sério, não há obra pública que não demore mais que o previsto e não tenha revisões de custos sucessivas. É natural, portanto, por muitas razões e mais estas, a discordância entre a nata dos economistas portugueses acerca do interesse público, e da oportunidade, na realização dos chamados mega projectos e, nomeadamente, do TGV.
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Há dias ouvi na mesma emissão de rádio a opinião de três desses economistas, por acaso formados na mesma escola, não formalmente alinhados políticamente, opinarem de modo radicalmente diferente. Enquanto dois deles apontavam a dívida externa como obstáculo o terceiro ignorava o obstáculo e as contas dos outros e defendia o TGV por razões de integração do país na Europa.
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Este é, aliás, o modo com que frequentemente se discutem os grandes projectos em Portugal, se elaboram programas eleitorais, se tomam decisões estratégicas: por instinto. As contas ficarão para serem feitas à posteriori pelo Tribunal de Contas do dr. Oliveira Martins, sem consequências visíveis.
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Afinal de contas, para quê tanta ânsia à volta dos resultados dos exames de matemática, se as contas estão cainda cada vez mais em desuso?

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