Tuesday, April 07, 2009

CARTA PARA A DONA FÁTIMA

Dona Fátima Campos Ferreira,

Estive a ver o seu programa de ontem até ao segundo intervalo. Não sei, portanto, se ficou resolvido o caso "TGV ou não TGV", mas receio que não. Também receio que o auditório do programa não tenha ficado mais esclarecido acerca dos prós e contras em discussão, quando o programa acabou, do que eu que desisti cerca da meia noite. Para mim, já se fazia tarde, e não consigo perceber por que razão a RTP faz questão de prolongar os serões dos portugueses, reduzindo-lhes as horas de sono ou incentivando-os a não chegarem a horas aos seus empregos, ou a lá chegarem ainda meios adormecidos.
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E é, justamente, a propósito dos horários das noitadas da RTP que decidi enviar-lhe esta carta.
Como bem sabe, o desenvolvimento económico e social do nosso país não tem estado famoso nesta última década. Diz, quem sabe, que a razão principal da nossa perda de passada relativamente aos nossos parceiros na União Europeia se deve ao facto da nossa produtividade total ter quase estagnado. Por detrás desta perda de produtividade estão vários factores, de entre os quais o mais preponderante será o baixo nível médio educativo. Mas há outros.
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Um deles é a falta de pontualidade. Andamos todos, geralmente, atrasados. Umas vezes por culpa própria, outras por culpas alheias em cadeias. Atrasa-se o Estado no pagamento aos seus fornecedores e, a partir daí, desencadeia-se um processo de atraso em cadeia com efeitos desastrosos sobre a produtividade. Quem anda atrás de quem lhe deve não faz aquilo que deveria fazer. Nos horários, atrasam-se os combóios, os autocarros, os aviões, os professores, os alunos, os médicos, os advogados, os políticos, os funcionários, os empresários, o atraso nacional é sistémico. Aliás, o Ministro das Obras Públicas garantia ontem que o seu TGV irá de Lisboa ao Porto em uma hora e um quarto. Não deve, contudo, ter entrado em conta nos seus cálculos com a propensão natural dos portugueses para o atraso.
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Haverá quem seja "pró falta de pontualidade"? Há gente para tudo, bem sei, mas acredito que, confrontados com esta questão, a esmagadora maioria será contra. E, no entanto, todos contribuimos um pouco para que esta doença social não seja erradicada.
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V. mesma, desculpar-me-á a franqueza, tem culpas nesta cartório das nossas fragilidades sociais.
Terminando o seu programa às horas que termina (ou começando às horas que começa, se preferir) está objectivamente a contribuir para a falta de pontualidade em Portugal. Será, muito provavelmente, um pequeno contributo mas, em todo o caso, atendendo à audiência que o programa desfruta, o impacto será sensível.
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Dir-me-á: E, então os outros? Todos, os que continuam pela madrugada fora a manter os portugueses acordados? Se o "Prós e Contras" terminar mais cedo, resolve-se o problema?
Claro que não.
Contudo, o "Prós e Contras" pode dar uma ajuda se promover uma série de programas sobre o tema "Quem é que anda a tramar a nossa produtividade". Sugiro-lhe que comece pela crónica falta de pontualidade dos portugueses. Estou certo que toda a gente entenderá o que está em discussão e talvez se descortinem algumas propostas geralmente aceitáveis.
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E comece v. por dar o exemplo terminando o seu programa mais cedo.

1 comment:

aix said...

Acordo total, Rui. Acontece(u)-me o mesmo, como sempre.Embora reformado tenho os meus habitozinhos e, pela meia-noite, ala que são horas. Assim, só vi até ao 2º intervalo e não sei quantas mais partes houve. De resto, o prgrama em si não foi dos melhores conduzidos: longos discursos professorais do Catroga(talvez, não sei, se com razão),as interrupções crónicas do representante do PCP os esclarecimentos claros( não sei se razoáveis)do ministro Lino e os arrazoados do costume.O crónico atrazo dos portugueses sofri-o eu muitas vezes, mas se o alta velocidade sair a horas quem não estiver fica em terra, não vejo nisso qualquer obstáculo à sua concretização. Já o apelo à D. Fátima para centrar o seu (geralmente) bom programa, oxalá ela te oiça (leia). Abç