Sunday, March 29, 2009

UMA QUESTÃO DE CAVALOS

A corrupção, sempre! QUE FAZER? Creio que ninguém é capaz de responder. Só uma coisa se sabe: tudo começa na justiça. Mas, saber isso, com a justiça que temos, é o mesmo que nada.

Caro AB,

Não é a primeira vez que as suas fotografias me incitam a escrever algumas palavras acerca delas. Leio mais esta sequência e tudo nelas está enquadrado de forma irrepreensível, os tons são os adequados, a distância sufiente para se ressaltarem os pormenores relevantes. Contudo, à medida que lhe admirava a precisão e a perspicácia, ia-me pondo a questão recorrente que os seus textos me suscitam. Que fazer? Porque, assim como o doente atormentado com doença ruim, espera que o médico lhe dê uma esperança numa receita e nunca um desumano soco de um "não há nada a fazer", as suas radiografias sem receitas que possam alterar-lhe as fístulas fatais contribuem desumanamente para a nossa depressão e nem sequer para a nossa revolta.

Foi assim, destroçado com a evidência crua e negra das suas palavras, que saltei do antepenúltimo parágrafo para o derradeiro onde a minha ânsia de soluções se agarrou a aquele QUE FAZER? em letras capitais. E a minha desilusão, desculpe-me a franqueza, não podia ser maior, porque o seu remate é um soco no estômago de quem já estava contraído como um condenado mas ainda se agarrava a uma réstea de esperança, aquilo que parece ser a última coisa a morrer.

Se, segundo crê, não há quem saiba responder, que sentido fazem estas suas radiografias? Que propósito pode estar por detrás de um relatório de que se conhecem antecipadamente as conclusões se estas não permitem qualquer saída?

A meio da semana a senhora procuradora Cândida Almeida defendeu a criação do crime de enriquecimento ilícito, que permitiria à justiça dispor de mais uns cavalos para perseguir aqueles que têm cavalos a mais nos seus Maserati. Não valeria a pena discutir esta questão de cavalos?

2 comments:

A Chata said...

Porque considera que só se devem fazer 'radiografias' quando temos conhecimento de algum tratamento para a 'doença'?

Sem 'radiografias' que mostrem a realidade da 'doença' é que não me parece que se possa descobrir uma possibilidade de cura.

Com tanta gente, por aí, em negação ou a propor medidas que vão prolongar por mais um tempo (não muito) o estado de ilusão de que tudo se vai resolver em breve acho positivo que haja pessoas que tentem 'acordar' os outros para a verdadeira gravidade das 'doenças' que afligem o Mundo e a Humanidade.


Seria bom que cada vez mais pessoas tomassem consciência que os problemas que enfrentamos não são de um país ou outro, são problemas que ameaçam a própria sobrevivência da espécie humana.

Que tomem consciência que se continuarmos pelo caminho dos jogos de poder entre países, do enriquecimento (de alguns) a qualquer custo, sem consideração pelas consequências, não temos futuro.

Os recursos essenciais à vida que começam a perigar (água potável e alimentação), uma população que não pára de crescer, uma distribuição de riqueza completamente desequilibrada, alterações climáticas,...

Só uma revolução de mentalidades, de modos de vida, de prioridades e de valores poderia alterar este estado de coisas.

Se ao olhar para o doente com cancro, já cheio de metastases e, como não temos uma solução visível para o problema, continuarmos a dizer talvez seja só uma inflamação, uma pomadas talvez resolvam então, é que perdemos todas as hipóteses de o salvar.

Nada como chamar mais opiniões e apresentar a realidade do problema.
Quem sabe entre todos se descobre algo.

Rui Fonseca said...

"Porque considera que só se devem fazer 'radiografias' quando temos conhecimento de algum tratamento para a 'doença'?"

Agradeço-lhe, cara A., a sua interpelação. Como sabe, não me revejo nas minhas certezas, porque não as tenho.

O que eu penso acerca deste artigo de António Barreto publicado no Público, e de outros do mesmo autor, e de outros autores igualmente fotógrafos da realidade portuguesa, é que elas são uma constante repetição do mesmo: este páis é uma choldra e não há nada a fazer.

Esta vocação vem de longe. E muita gente se regozija com a constatação de que fotografias antigas nos apresentam cenários muito semelhantes aqueles que nos descrevem estes fotógrafos de hoje.

Para quê? Do meu ponto de vista, porque vivem deste ofício. Se um dia, por benção dos deuses porque segundo eles os homens não chegarão nunca lá, a realidade fosse outra e a fotografia não tivesse traços de subdesenvolvimento humano, o ofício extinguia-se.

Ora eu estou convencido que há soluções para os problemas que a sociedade portuguesa enfrenta. A corrupção pode reduzir-se já que não pode erradicar-se.

A procuradora deu uma pista, que não é original. Porque não se discute? Porque prefere AB, e muitos outros, continuar a fotografar sem discutir propostas?

O que pretende ele quando nos diz: Isto é uma choldra mas não há alternativa?

Que lhe bata palmas? Eu não bato.