Wednesday, March 04, 2009

ACERCA DA NACIONALIZAÇÃO DOS BANCOS

US urged to take lead against recession
Fresh stimulus expected in China

Flash Gordon Brown está em Washington, discursa meia hora no Congresso, mas o mundo virou-se para os estímulos que os chineses prometem anunciar amanhã, e as bolsas arrebitaram.
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Até agora, os estímulos anunciados do lado norte-americano têm sido, geralmente, considerados insuficientes, as sucessivas injecções de liquidez não têm produzido os efeitos esperados e a nacionalização dos principais bancos é tida por muitos como a única alternativa capaz de inverter as vagas de desconfiança desendeadas pelos logros que um sistema sem freios produziu.
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A ideia da nacionalização dos bancos, contudo, contém em si, além de mais, um efeito perverso, porque potenciador dela própria: a partir do momento em que se instala a convicção de que a nacionalização é inevitável, as cotações em bolsa dos bancos alvejados por essa convicção desfazem-se irremediavelmente. Quem é que investe numa empresa sobre a qual impende a ameaça de nacionalização?
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O Estado, ou melhor dizendo, os governos enquanto tutores dos interesses do Estado, não são, geralmente, melhores ou mais honestos gestores do que os gestores privados. Nem prosseguem nos actos de gestão, necessariamente, de forma mais consonante com os interesses dos cidadãos que aquela que resulta da concorrência privada. Mas seria ocioso, no meio do furacão que se instalou, querer contrariar uma evidência sentida em todo o lado: na ressaca de uma embriaguês que se apoderou do sistema financeiro, e que atinge sobretudo os que não beberam do fino, as pessoas olham para o Estado como o último reduto onde podem depositar alguma confiança.
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Neste sentido, se o anúncio prometido para amanhã pelos chineses tiver o condão de ajudar a restabelecer a confiança perdida e inverter a tendência infernal instalada, talvez a banca ocidental escape à nacionalização. Se não, quanto mais tarde ela ocorrer, pior.
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Disse pior, mas repenso: se o sistema financeiro escapar sem se reformar voltará a recair mais tarde ou mais cedo; e não se reformará nunca de motu proprio.
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2 comments:

Luciano Machado said...

Caro Rui
Nacionalizar só para restabelecer a confiança é mudar as moscas e deixar tudo na mesma.
A reflexão final do post parece-me pertinente. Mas atenção: o sistma não se "reforma" por ele próprio, seja com gestão pública ou privada. Veja-se a actuação da CGD.
Um abraço
LM

Rui Fonseca said...

Olá Luciano, obrigado pelo comentário.

Se o nosso amigo DV o lesse, dir-te-ia:

Ah Luciano, como tu mudaste!

PS - Afinal, segundo leio hoje nos noticiários, os chineses não anunciaram novos estímulos e pensam que os que lançaram há tempos são suficientes.

Uns manhosos, estes chineses.