Friday, March 06, 2009

CONTRA A CORRENTE

Quando toda a gente se preocupa com a deflação que esta crise promete, obrigando os bancos centrais a baixar as taxas de juro até níveis históricos, parece uma ideia de outro mundo falar de inflação e da possibilidade dela estar à espreita no outro lado da esquina. Ainda que, certamente, muito gente veja na ceifeira uma saída do buraco onde se meteu a economia global.
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Pela minha parte, receio que a tentação que, a páginas tantas da crise, se apoderará de muitos para a convidar a entrar submergirá a resistência de uns quantos. Já dediquei ao assunto mais de duas dezenas de apontamentos neste caderno.
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Foi, portanto, sem surpresa, que li na entrevista de Paul Samuelson (um jovem com 93 anos) transcrita na edição desta semana da Visão, o notável economista responder à questão das consequências dos estímulos no crescimento dos preços:
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"Se, numa perspectiva optimista, estivermos com uma taxa de desemprego de 4%, em 2012, os preços serão mais elevados do que hoje, provavelmente crescerão a um ritmo de 2% ao ano, culminando numa taxa de inflação de 8%. Julgo que é preferível à deflação, um problema muito mais preocupante. Dadas as circunstâncias, é melhor errar por excesso, no que toca aos estímulos. Ninguém, no seu perfeito juízo, tentaria evitar a escalada inflacionista que descrevi sabendo que ela permite evitar a deflação e nos poderá conduzir a um estado de economia sustentada, outra vez."
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Na entrevista transcrita na Visão, P Samuelson diz que se envolveu com "a política económica a 2 de Janeiro de 1932, num dos pontos mais baixos da Grande Depressão. Era, na época, conselheiro da Fed...". Naquela data, Samuelson não teria ainda completado 17 anos (nasceu em Maio de 1915), frequentava a Universidade de Chicago, onde foi bachelor em 1935. Não localizei o envolvimento precoce na Fed a que Samuelson faz ferência em Nobel Lectures , que resume o curriculum dos laureados.
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Já depois de ter escrito este post, observo no Jornal de Negócios on line que Helena Garrido subscreve a tese
"Do que precisamos é de uma (boa) inflação". Se precisamos, ela não tardará. A não ser que Angela Merkel não esteja pelos ajustes. A inflação é um fantasma que continua a assustar os alemães.
E os reformados de todo o mundo.

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