Tuesday, March 03, 2009

A ALEMANHA E A EUROPA



Penso que não.

É inquestionável que o peso relativo da Alemanha no contexto europeu e, nomeadamente o seu peso económico, lhe confere um papel determinante na evolução da economia da União Europeia e na afirmação da moeda única no mundo.

Na parte que nos toca, é muito significativo o impacto da maior ou menor dinâmica da economia germânica nas nossas exportações e, consequentemente, da evolução da nossa economia. Quando a locomotiva reduz a velocidade ou inverte o sentido da marcha, as carruagens que mais lhe estão atreladas reagem ao impulso que as anima ou desanima.

O PR está neste momento de visita à Alemanha, e não sendo esperável que resolva os problemas mais prementes que hoje se colocam às relações comerciais entre os dois países, a viagem certamente permitirá pressionar os políticos alemães, e sobretudo a Chanceler Merkel, para a imprescindível necessidade de a Alemanha, hoje mais que nunca, jogar o seu peso económico na defesa da unidade europeia.

Contrariamente ao que geralmente se supõe, a Alemanha não foi a grande beneficiária da introdução do euro. Passava bem sem ele. Mas a unidade europeia tem de construir-se com estruturas transversais e o euro é uma delas. E, por enquanto, a mais importante. A Alemanha ao abdicar da sua moeda (que era forte) para se abalançar numa aventura monetária comum (que outros rejeitaram, entre eles o Reino Unido) mostrou a sua dedicação à Europa.

Vai continuar a Alemanha ( e os outros países membros contribuidores líquidos) a suportar (ou como vai suportar) as dificuldades estruturais de outros membros agravadas pela crise?

Se sim, a União Europeia poderá sobreviver a esta tempestade; se não, o barco pode desmantelar-se ou alguns dos ocupantes serão jogados borda fora. Entre estes estão mais ameaçados alguns membros do leste europeu, recentemente admitidos a bordo e que não apredenderam, ou não tiveram tempo para aprender, a navegar nesta embarcação complexa, mas também alguns membros que entraram há mais tempo mas não souberam adaptar-se a viver com moeda forte nas mãos. Entre estes, estão os portugueses.

O perigo a bordo não é que o comandante seja o alemão mas que o comandante abandone o barco ou mande abandonar alguns dos que vão a bordo. Qualquer destas últimas hipóteses teria consequências dramáticas para a paz e a segurança europeias para além do irremediável retrocesso na afirmação do espaço europeu no contexto económico global.

2 comments:

A Chata said...

"É inquestionável que o peso relativo da Alemanha no contexto europeu e, nomeadamente o seu peso económico, lhe confere um papel determinante na evolução da economia da União Europeia e na afirmação da moeda única no mundo"

Ou seja, tem dominado a Europa economicamente, não será?

Com isto, não quero dizer que tudo tenha sido mau para os países 'dominados'.

Em Portugal, por exemplo, o número de Ferraris aumentou significativamente (estou a brincar).

Temos estradas, auto-estradas como nunca tinhamos tido o que é importante para a mobilidade de mercadorias (sobretudo para os nossos vizinhos nos inundarem com os excessos da sua produção agrícola e piscícola).

Temos, sobretudo a mobilidade laboral que nos permite (ou permitia) trabalhar em países com ordenados mais altos e melhores condições de vida.

" ...mostrou a sua dedicação à Europa."

Não acha isto um nadinha lirico?

E já que menciona o PR, lamento mas, ele que me desculpe se estiver errada, a sensação que tenho é que o casal está a gozar uma 'reforma dourada' no palácio de Belém.

Depois da visita à Madeira, do tabu da polémica dos Açores, do silêncio, ou quase, perante os escandalos sucessivos, a admiração que tinha por Cavaco Silva como politico perdeu-se.

Rui Fonseca said...

" ...mostrou a sua dedicação à Europa."

Penso que sim. Helmut Kohl foi (é) um grande europeísta.

Quando decidiu reunificar a a Alemanha e arriscar a sorte do marco mostrou que era um grande estadista; depois foi ele que esteve na origem da aceleração da integração europeia.

Quem é que teria feito o mesmo, estando à frente de um país económica e socialmente avançado,
para levar a reboque os seus compatriotas do lado oeste em aventuras de reunificação alemã e integração europeia?

Não podemos continuar a olhar os alemães como descendentes do nazis. Haverá por lá ainda alguns.
Curiosamente, sobretudo na parte leste.Mas há gente dessa, infelizmente, um pouco por toda a parte.

Mas, se tivermos que olhar para trás, repare-se no comportamento dos franceses durante a Segunda Guerra Mundial. Na forma como se subjugaram, e apoiaram em muitos casos, à ocupação nazi.