Friday, December 19, 2008

PEIXEIRAS - ANOS CINQUENTA

Nas redondezas, caminhavam apressadas a pé descalço os quilómetros precisos para vender o que levavam nas canastras e voltar a casa.

Por vezes, se a faina era pródiga a concorrência apertava, havia corrida de fazer vir os bofes à boca para apanhar as freguesas mais próximas, quem não tinha vintém em casa trocava a sardinha, o carapau, a faneca, o ruivo, a raia, por ovos, feijão, até por um galo ou galinha se lhe arrematassem o resto.

Algumas preferiam andar mais e vender melhor. Saiam de casa de madrugada, voltavam só no fim do dia.

No Verão era o tempo da sardinha, de tanto baloiçar o peixe ia-se escorrendo pelas guelras, diluindo as pedras de sal grosso que lhe tinham atirado na lota.

De vez em quando, paravam e inclinavam a cesta, segurando-a com a mão esquerda para deitar fora os fluidos escorridos. E acontecia sempre de seguida afastarem as pernas, puxarem as saias para a frente com a mão direita, e escorrerem-se elas mesmas, descaradas e inocentes.

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