Friday, December 19, 2008

LISBOA LOPES

Se há coisa para que me falta total vocação é para a fulanizar os assuntos. O que não quer dizer que, uma vez por outra, algumas notícias, comentários ou críticas não me desencaminhem. E é este o caso.
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Talvez porque é incontornável ter de discutir os candidatos para poder discutir Lisboa, atendendo à propensão instalada para discutir as pessoas em vez de discutir as suas ideias, propensão essa que em grande parte decorre do facto de a estrutura do governo das cidades ter herdado muitos tiques da tradição caciquista que sustentava os dignatários locais. Aquilo que deveria ser o resultado de um consenso acerca do desenvolvimento da cidade, tomado em sede de uma vereação não executiva, onde coubessem a maturidade e a ousadia, é deixado ao quase livre arbítrio de um indivíduo sustentado em compromissos muitas vezes perversos. É, portanto, empobrecedora a discussão dos fulanos em presença mas parece inevitável.
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Quando cheguei a Lisboa, já há muitos anos, a cidade maravilhou-me à primeira vista. Porém, à medida que a fui descobrindo, se aumentou o meu entusiasmo também cresceu o meu desencanto: Havia uma Lisboa que era como uma maçã de pele saborosa e um interior completamente bichado. Continua na mesma. Muito maior, mas essencialmente na mesma.
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Plantada num local deslumbrante, a incúria, a incompetência, fizeram de Lisboa uma cidade cheia de mazelas sem que isso cause aos seus habitantes qualquer estremecimento. A quantidade de prédios abandonados e degradados, por exemplo, não tem nenhuma justificação para além da falta de vista dos seus habitantes, que não reparam nela com olhos de ver, e da falta de visão dos que a têm governado.
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A muito custo foram reduzidas as áreas de bairros de lata (mas não totalmente erradicados) mas ao mesmo tempo assiste-se à emergência de novos bairros degradados em altura, consequência de uma política (acertada mas mal prosseguida) de propriedade horizontal que não obriga, realmente, a cuidar da manutenção exterior e interior dos prédios.
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O trânsito é um caos porque entram na cidade muito mais carros do que ela comporta. O estacionamento piora e não há parques que possam melhorar a situação. A limpeza, um corolário da falta de outros hábitos de convivência cívica, está pior que no tempo em que cheguei.
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E vamos então aos fulanos: António Costa, por maiores que sejam os seus créditos como dirigente partidário e como governante, tem demonstrado que não gosta do lugar que agora ocupa. Está lá porque o mandaram para lá: sem alma nem gosto. A invocação de que herdou uma câmara falida não justifica minimamente que não tenha alterado aquilo que deve ser alterado sem custos, como é o caso do estacionamento selvagem, por exemplo.
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Pela direita baixa, entra-nos Santana Lopes, mais uma vez. Sem perceber, a não ser por razões de maquiavelismo serôdio, porque lhe dão novamente guarida, espanta-me que não haja quem possa ser apresentado, ou se apresente, de cara lavada a candidatar-se ao governo de Lisboa estribado em ideias para renovar a cidade e não numa carreira, aliás completamente errática, sustentada por um carisma de alcofa.
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Discutindo o Lopes, não se discutirá mais nada. MFLeite presta, com esta nomeação, um mau serviço a Lisboa. Poderia outro candidato ser, potencialmente, mais perdedor e Santana Lopes continuaria irrequieto, sem poiso político, a incomodá-la. Mas ganharia uma oportunidade para poder afirmar, credivelmente, uma política alternativa à inércia do actual incumbente.

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