Saturday, December 13, 2008

COMBATE À CRISE


Governo anuncia estímulo económico que representa 1,25 por cento do PIB
O primeiro-ministro, José Sócrates, anunciou hoje um pacote de apoio à economia, designado “iniciativa para o Investimento e Emprego”, centrado em medidas de investimento público e no apoio às pequenas e médias empresas e ao emprego, que totaliza 2180 milhões de euros e representa 1,25 por cento do PIB (produto interno bruto, que contabiliza o valor anual de tudo o que é produzido no país) em 2009. O défice público deverá ficar nos três por cento do PIB, anunciou também.
Subsídio social de desemprego vai durar mais seis meses em 2009.
.
Uma das melhores medidas de combate à crise seria que se falasse menos dela e mais em medidas que pudessem recuperar a confiança geral de modo a colocar a economia nos eixos. Lamentavelmente, contudo, passa-se o contrário: As discussões, as crónicas, os discursos, que enxameiam os noticiários pelam-se por falar da crise e quase ignoram as medidas a tomar.
Percebe-se porquê: Há mais apetência para abordar a desgraça do que competência para a ultrapassar.
.
E, no entanto, esta seria a hora inadiável para descobrir soluções e acabar com muitos vícios que entopem as virtualidades da vivência democrática. Contudo, nem o governo nem a oposição se mostram disponíveis para um trabalho que, para ser bem sucedido, requeriria consensos alargados.
.
O ponto de encontro democrático deveria observar-se na Assembleia da República onde, infelizmente, frequentemente os deputados das primeiras filas se entretêm sobretudo em arremessar uns aos outros argumentos propositadamente irreconciliáveis, enquanto os detrás a fazerem figura de corpo presente batem palmas e votam consoante as indicações recebidas.
.
Um dos exemplos mais flagrantes dessa convicção absurda, que enche a cabeça dos políticos em geral e dos parlamentares em particular, de que só existe democracia no confronto democrático e o consenso é coisa dos regimes de partido único, está a observar-se na disputa que opõe os professores e os sindicatos, ao ministério da educação.
.
Procura o governo estribar-se na lei, que só foi aprovada pelo partido que o apoia, e reclamar a sua legitimidade democrática para impor as regras que afectam os interesses de cento e vinte mil
professores. Que, naturalmente, reagiram da forma que se viu, arrastando a solução do problema para um mais que provável impasse. E, no entanto, os propósitos que levaram o governo a adoptar medidas de qualificação do ensino são indiscutíveis para quem esteja mais de boa fé e menos a olhar para os cento e tal mil votos que poderão render uma oposição cerrada.
.
O combate à crise passa em larguíssima medida pela formação dos portugueses. Não esta crise que, acreditamos, será ultrapassada em um ou dois anos, mas a crise mais profunda em que Portugal mergulhou há séculos e de que, apenas há poucos anos, deu alguns sinais de conseguir vir à tona e incorporar-se airosamente no grupo dos países desenvolvidos.
.
Foi em democracia, e só em democracia, que essa emersão se deu. Seria lamentável que imergisse irremediavelmente de novo por abuso das liberdades que a democracia consente.

No comments: