Tuesday, July 01, 2008

O SABOR DO RIO


Sócrates considera "ultrapassada" discussão sobre barragem do Baixo Sabor
Para o primeiro-ministro, José Sócrates, a discussão em torno dos problemas ambientais da Barragem do Baixo Sabor está "ultrapassada", apesar das novas acções de protesto dos ambientalistas, levadas a cabo no dia da formalização da adjudicação da construção do empreendimento. "Todas as palavras estão ditas, resta construir" esta e outras barragens constantes do Plano Nacional, referiu José Sócrates em Picote, no concelho transmontano de Miranda do Douro.
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Caro Joao V.,
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Recebi a tua convocatória e reflecti sobre o assunto. Que, aliás, nada tem de novo: o confronto entre as necessidades, reais ou induzidas, crescentes de energia e as consequências que esse aumento até agora imparável provoca no ambiente.
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A convocatória teve os seus méritos ainda que o governo tenha decidido, e bem, do meu ponto de vista, avançar com a construçãao da barragem.
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Quanto ao mérito da convocatória: Todas as iniciativas que levem ao cidadão comum informação acerca do custo das diversas opções têm o mérito de, a pouco e pouco, o iniciarem na observação das conflitualidades dos interesses em jogo. As pessoas, todas as pessoas, reagem a incentivos e estes são-lhes disponibilizados pelas perspectivas em que elas se situam ou são levadas a situarem-se. A racionalidade das suas decisões ou opções decorre da perspectiva e dos incentivos. Só mudando a perspectiva se mudam os incentivos. Um dia, as pessoas estarão mais alertadas que hoje para os custos do consumismo desenfreado, que denuncias, e para a delapidação do património histórico e natural que aqueles excessos frequentemente determinam.
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Mas o governo fez bem em decidir-se pela autorização de construção da barragem porque é impensavel alterar hábitos e processos de modo suficiente para dispensar a continuação dos investimentos na produção de energias renováveis. Portugal é tão dependente e a ameaça da escassez de combustíveis fósseis tão flagrante que seria pouco razoável dispensar a construção desta e de outras barragens. Ainda que sejam significativos os custos ambientais e naturo-patrimoniais da decisão.
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Vale a pena ainda perguntar, a propósito desta barragem no Sabor: Que ganhámos nós com o embargo à continuação da construção da barragem no Coa, onde (números à data do impedimento) já tinham sido investidos 250 milhões de euros? Há dias, Eduardo Lourenço, de visita à sua aldeia natal, passou pelo Coa e quis ver as gravuras. Não pôde. Tinha de ter pedido antecipadamente uma visita guiada. É crivel que, se as gravuras têm o interesse cultural que foi, na altura, reclamado, estejam praticamente ignoradas desde então ?
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6 comments:

António said...

Caro Rui,
Isto de fazer barragens e outras coisas de tal tamanho e impacto no meio ambiente, não é coisa fácil e muito menos deve ser tomada de ânimo leve, ainda por cima com uma cobertura de chantilly e cerejas cristalizadas.
A construção de uma barragem, em certos locais, com as justificações (desculpas) apresentadas, é crime.
Crime porque altera todo um ecossistema, uma paisagem e um modo de vida.
Conhece o Sabor? Já lá pescou? Já percorreu aquela região ser ser de carro, aos poucos?
Se o tiesse feito, teria outra opinião a subtrair à sua soma de economista.
A justificação de que temos que produzir energia de uma origem que não seja a estafada da energia fóssil importada, etc.,etc., está toda rota.
Está toda rota porque os portugueses, para além dos exmos. snrs. accionistas da edpq, não obtêm qualquer benefício, antes pelo contrário têm sido penalizados, com os benefícios que essa empresa obtém explorando um bem que não é seu exclusivo. Um bem que é de todos nós, mas que só ela e através dela, alguns beneficiam.
Os fabulosos lucros que a edqp obtém à custa dos seus clientes Portugueses, não servem para aligeirar as contas e tornar as suas facturas de electricidade menos penosas de pagar. A electricidade que a eqdp produz, não sei quem transporta e depois não sei quem distribui, além de má qualidade (lembra-se da peta da cegonha que bateu num fio...)com interrupções, picos de potência e que ao menor raiozito é interrompida sabe-se lá por quanto tempo, é por estes motivos e mais alguns caríssima, porque como se sabe, não presta. Falha muito e é aos altos e baixos.
A Industria Portuguesa paga uma energia das mais caras do mundo e relativamente às suas congéneres europeias, nem se fala.
O que faz a edpq com os seus fabulosos lucros obtidos através de uma facturação hiper-inflaccionada pela permissividade das entidades reguladores e fiscalizadoras (eu ia dizer entidades tudo-isso-fantasma, mas não digo para você não pensar que eu sou algum comunista. Detesto comunistas.
O que faz?
Investe em eólicas nos States e noutros locais que não este, a quem deve obrigações na pessoa do seu cliente hiper-pagante.
Portanto, meu caro Rui, há um duplo crime, o primeiro porque altera para seu unico e exclusivo benefício, a paisagem, o clima e um modo de vida que não é seu, ´we de todos danificando-o e quem danifica o que não é seu, comete crime.
O segundo, porque ao fazê-lo, não dá retribuição nenhuma a quem o faz. E quem não paga o que deve, comete crime, é caloteiro, ladrão.

Rui Fonseca said...

Obrigado, Joao, pelos teus comentarios.

Contudo, fico com uma duvida do tamanho da barragem, pelo menos:

Como e que pode, entao, resolver-se o problema da producao de energia em Portugal? Atraves das eolicas? Chegam? Nao chegam.

E alem de nao chegarem ha ja muito quem clame contra o atentado que elas representam para a paisagem.

Ou nao e verdade?

Rui Fonseca said...

Em complemento do que atrás escrevi tenho de acrescentar que estou inteiramente de acordo que deve ser incentivada a produção de energia solar individualizada.

Mas não podemos esquecer o facto de serem para fins industriais os grandes consumos energéticos.

O problema não tem claramente apenas uma solução. Todos os contributos são essenciais.

Do meu ponto de vista, o recurso a novas barragens é inevitável mesmo contando com um crescimento muito significativo das eólicas e solares.

Rui Fonseca said...

Caro Antonio,

As minhas desculpas por ter, distraidamente, escrito "Obrigado Joao" quando deveria ter escrito "Obrigado Antonio"

António said...

É verdade.
Andamos sempre a reboque dos outros já que há tempos houve uns habitantes de uma remota zona da Inglaterra que se queixavam do barulho e das monstruosas ventoinhas que lhes puseram à frente. Só queriam o rugido da ventania, o mé dos carneiros e o crepitar da lareira...
Pessoalmente, prefiro os geradores eólicos, aos paineis solares.Esses sim, inviabilizam extensas áreas de terreno e são de uma poluição visual enorme. Os "moinhos" alcandorados em montes e serranias não incomodam muito pelo barulho e são uma coisa que se suporta mais ou menos. Uma barragem altera muito o clima local e favorece o aparecimento de microclimas que podem ser benéficos ou prejudiciais. Com o lago, vem uma espécie de turismo saloio, com barcos a motor de explosão e motas de água que são do pior que pode aparecer no horizonte, quanto mais ao perto.Além dos inevitáveis derrames de combstível e lubrificantes para a água. Uma central termoeléctrica, é um monstro e já temos que chegue, estando estas em vias de dar chatice com as novas metas do cabono. O que resta, para produzir muito, fazendo pouco estardalhaço? O nuclear? Tem de pensar nisso.
E se em vez de estarmos sempre a produzir mais e mais para que se consuma mais e mais, com desperdícios enormes, reduzíssemos os consumos? Parece de propósito o que se faz para cada vez se gastar mais. Iluminações em locais como cruzamentos de estradas com antecedência de 500 metros ou mais. Coisas que ficam com luz acesa 24 horas. Ar condicionado à balda. Zonas de frio abertas nos supermercados, quando eviam ter vitrinas. Em poupar energia, por consciência e não por obrigação ninguém fala. Não há um anuncio a alertar e a incentivar a poupança eléctrica ( não convém). Na Holanda, foi feita uma campanha de troca de lampadas incandescentes por lampadas economizadoras em que estas eram oferecidas. Não se pode substituir tudo , mas ajuda. Em termos de desperdício de recursos somos uma lástima.
Temos de poupar, é um passo e o caminho faz-se. Enquanto não houver poupança consciente ,não vamos a lado nenhum. Todos queremos energias alternativas, carros a pilhas e tudo sem petróleo, não para poupar os recursos e o ambiente, mas sim para podermos continuar a esbanjar à grande sem termos de pagar mais ou muito por isso. A grande alegria dos portugueses seria ver as bombas de combustível todas às moscas enquanto se faziam transportar alegremente, cada um no seu pópó a pilhas, refrigerado ou aquecido, gastando watts e watts de energia obtida com o ressonar, durante a noite, ou só assim, estalando os dedos.

Rui Fonseca said...

"O nuclear? Tem de pensar nisso."

Não sei se os ecologistas preferem o nuclear às hídricas. Eu prefiro, sem hesitação, as hídricas. Assim pudessemos tornar-nos independentes em termos energéticos com elas. Mas não podemos.

Quanto à redução de consumos por alteração de hábitos e processos, estou inteiramente de acordo e já o referi várias vezes aqui no Aliás.

Mas mesmo assim não chega. Apesar de haver muito por onde poupar, não tenho dúvidas.