Wednesday, June 04, 2008

UMA CAMPANHA ALEGRE

Manuel Alegre juntou-se ao Bloco de Esquerda numa noite de festa para desancar nas políticas não socialistas do governo. É preciso juntar mais esquerda à esquerda, disse ele e foi muito aplaudido. É preciso reduzir o desemprego e a pobreza e foi muito aplaudido. Como é que isso se faz, Alegre disse que não sabia e remeteu a descoberta da solução para um diálogo das esquerdas. Louçã gostou de o ouvir e insurgiu-se contra a aqueles que condenam a união de facto entre Alegre e os bloquistas, ainda que habitem em partidos separados. Tanto Alegre como Louçã abominam que lhes falem no défice orçamental que consideram um luxo europeu a que não temos que nos entregar.
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À direita, a proposta mais badalada para uma sociedade mais justa é o crescimento económico fertilizado com a redução da carga fiscal. Entretanto, lia-se nos jornais de ontem que Portugal tem mais dois anos para eliminar o défice orçamental, sendo de 0,5 por cento do PIB o objectivo previsto para 2010. Ora as propostas de redução de impostos são sempre para agradar a gregos e troianos porque nunca arriscam avançar com contrapartidas do lado da despesa para as reduções que propõem do lado das receitas. O défice orçamental e os compromissos assumidos como membros da União Europeia não entram nas contas que fazem.
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Mário Soares, que não desiste da sua vocação oposicionista qualquer que seja o governo, exibe os seus pergaminhos na adesão à União Europeia, confessa-se federalista e europeu acima de qualquer suspeita mas esquece-se que o clube a que passámos a pertencer, também por obra sua, tem regras.
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É óbvio que Portugal enfrenta uma situação difícil, coisa a que aliás desde quase sempre está habituado, há muita mudança à espera, mas não há mudança sem custos nem perdedores. É isso que quem não governa geralmente se recusa a identificar.

2 comments:

A Chata said...

A minha dúvida é: será da "esquerda" ou da "direita" o próximo "salvador" que vai tirar partido do descontentamento e miséria crescente das populações para os seus (dele) próprios interesses?

Não tem sido sempre assim ao longo da História?

A quase certeza que tenho é que não vai ser pacifico nem bom de se ver e viver.

Rui Fonseca said...

"A quase certeza que tenho é que não vai ser pacifico nem bom de se ver e viver."

Cara amiga,

Não seja tão céptica acerca do futuro. O mundo,apesar de retrocessos, tem avançado globalmente em todos os sentidos que dignificam a pessoa humana, apesar de por vezes parecer o contrário.

Quanto ao nosso mundo mais próximo, não é de um salvador que precisamos. Do que precisamos é de uma sociedade mais exigente consigo própria. Com o tempo chegaremos lá. As contrariedades muitas vezes ajudam.