Thursday, May 01, 2008

MAIO DE 75

No dia 1 de Maio de 1974 terminou a Utopia sonhada em Portugal 5 dias antes. A celebração do Dia do Trabalhador convocada para o Estádio (redenominado) 1º. de Maio, em Lisboa, foi ao mesmo tempo o auge do delírio e o começo de uma tentativa de germinação de uma ditadura que queria crescer sobre o restolho da que fora abatida na madrugada de 25 de Abril. O PCP procurou a partir dali, suportado pela mobilização sindical, assaltar o poder através de um novo golpe militar. A oportunidade haveria de surgir na sequência da demissão do governo de Palma Carlos e da subsequente renúncia de Spínola. O 11 de Março de 1975 é a concretização dessa primeira fase da estratégia cunhalista. Nas celebrações do 1º. de Maio de 1975, Mário Soares é impedido * de aceder à tribuna e a luta partidária que se seguiu durante o Verão desse ano viria culminar com a tentativa de um novo golpe, abortado por um grupo de militares (Grupo dos Nove) a 25 de Novembro, e que colocou nos carris a democracia portuguesa. Pelo caminho ficava um registo de incidentes que colocaram Portugal nas manchetes da imprensa estrangeira pelos piores motivos. De entre esses incidentes, o sequestro dos deputados constituintes, no meio regozijo dos seus pares comunistas, foi um dos mais elucidativos exemplos da rejeição congénita do PCP às regras da democracia.
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Trinta e três anos depois, é ainda a Intersindical que mantém sobrevivente o único partido comunista do desmoronamento que atingiu todo o bloco soviético há quase 20 anos. Hoje terá, segundo as notícias, reunido cerca de 60 mil manifestantes na Fonte Luminosa, a mesma fonte que há 33 anos assistiu à maior manifestação de repúdio pelo assalto comunista, liderada por Soares. A proposta apresentada pelo governo de alteração do Código do Trabalho impulsionou a adesão à volta da central dominada pelos comunistas.
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Aparentemente, há muita gente ainda que não se interrogou porque razões chegaram a este nosso país, no extremo ocidental da Europa, empobrecido em todos os sentidos por uma ditadura que durou quase 50 anos, milhares de trabalhadores provenientes de países de leste que experimentaram a ditadura comunista em espaço de tempo equiparável.
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A oposição de direita, que geralmente invoca a rigidez das nossas leis do trabalho como uma das principais razões de não atractividade do investimento estrangeiro, tem agora oportunidade de ajudar a promover as alterações que removam aqueles factores negativos. Com as perturbações internas que os atravessam o mais provável, contudo, é que, mais uma vez, uma lei estruturante venha a ser aprovada apenas pelo governo, retirando-lhe consistência política no futuro.
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Da falta de maior consenso à volta do diploma que vier a ser aprovado, tira partido a Intersindical e, por tabela, o sobrevivente que lhe está enleado.
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* (...) Quando Mário Soares, com Salgado Zenha e outros dirigentes do PS, se dirigiu à tribuna do Estádio 1º. de Maio, onde decorriam as festividades e onde se comemorava o que ali tinmha acontecido um ano antes, não o deixámos entrar na tribuna. (...) Ele não ia entrar no palco para falar no Estádio 1º. de Maio. Aquele povo era nosso, e nós precisávamos dele. Na tribuna estavam, entre outros, o Presidente da República Costa Gomes, Vasco Gonçalves e Álvaro Cunhal, para além dos dirigentes da Intersindical. Na véspera, o governo tinha aprovado o decreto da unicidade sindical. (...) Eles tinham chegado com a manifestação dos que não queriam a unicidade sindical. ("Foi Assim", Zita Seabra)

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