Thursday, March 06, 2008

O CÉU E O INFERNO

Sua Santidade o Papa Bento XVI entendeu por bem recordar, há dias, aos mais distraídos, ocasionais ou relapsos, que o Inferno existe. Quem é que tem dúvidas?
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Ontem entrou-nos em casa mais uma dessas notícias televisivas que nos dão a volta ao interior: Um homem, na casa dos cinquenta, suponho, empregado numa Câmara Municipal, padece de enfermidade que o inibe de equilibrar-se convenientemente e o impede de expressar-se de forma normal. O presidente da câmara reconhece a incapacidade do trabalhador e deu indicações para não serem atribuidas tarefas. O homem vagueia atarantado pelo local de trabalho, impossibilitado de não comparecer, impossibilitado de fazer seja o que for. A junta da Segurança Social que analisou o seu caso não lhe concede a reforma, considerando-o apto para o serviço.
A estação de televisão que dá a notícia aproveita a oportunidade para colar outras situações, recentemente noticiadas, com contornos médicos distintos mas as mesmas sentenças: Aptos para o serviço. Todos eles claramente atingidos pelo infortúnio de forma irreparável.
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Não há muito tempo uma outra junta atribuiu ao dr. Paulo Teixeira Pinto, de 46 anos de idade, ex-presidente do Millennium BCP a condição de inválido e, em consequência, garantiu o inválido ex-banqueiro uma reforma mensal de 35 mil euros.
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Por que razão procedem assim as juntas? Mistério? Só para quem não acredita que o Inferno existe e fica longe do Céu.

1 comment:

António said...

Nas juntas médicas para verificação de incapacidade permanente, quem manda é o funcionário da SS.
Os médicos devem-lhes imensos favores e diáriamente aumentam esse défice a favor do funcionário.
Por norma, chegam atrasados e quem lhes perdoa isso? O funcionário.
Rubricam relatórios e o funcionário preenche? Talvez.
Precisam de sair mais cedo, quem autoriza? O funcionário.
Qual o dever do funcionário? Defender o patrão, que paga com o nosso dinheiro, a uns e a outro. Como?
Chumbando as pretensões dos contribuintes (só passam a ser beneficiários a partir do momento da reforma e quando tiverem esgotado o que descontaram para lá) e evitando o aumento dos reformados. Os médicos, devedores de favores, condescendem, encolhem os ombros.
Portanto, meu caro Rui, normalmente não se trata de rigor médico a presidir à decisão do sim ou não. Trata-se de humores de mangas de alpaca e com a satisfação de apregoar a incompetência de uns e a prepotência de outro.
Depois, ao fim do dia, com os amigos de volta das super-bocks ou das topázios e dos couratos e caracóis, a chacota é geral.
Com tanto serviço em atraso, quem se lembra de associar um nome a um caso de incapacidade?
Se calhar reformaram o do banco e mandaram trabalhar um desgraçado que já deve ter morrido a trabalhar para sustentar semelhante cáfila. Por engano, talvez.Acredita?