Saturday, March 22, 2008

É MELHOR MUDAR DE ÓCULOS?


O Economist da semana anterior, publicava o artigo Grossly distorted pictured onde o autor convida a usar lentes diferentes para ler o crescimento económico, não através do crescimento total mas do crescimento per capita.
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Não é por mudarmos de óculos que a realidade se altera. Quanto muito, passamos a ver o que não víamos, mas também pode suceder o contrário se as lentes não forem multifocais. No caso em questão, a mudança de lentes não nos leva a ver o que era já visível a olho nu:
A questão de um crescimento demográfico superior ao crescimento económico é tema debatido há muitos anos, pelo menos desde Malthus. Neste artigo, a questão é colocada do lado contrário: Se o crescimento percentual demográfico é inferior ao crescimento percentual económico do país o crescimento percentual per capita é superior ao crescimento percentual económico total. Trata-se de uma evidência aritmética que tem muitas nuances, algumas descritas pelo autor: melhora a perspectiva dos europeus, dos japoneses e dos chineses, piora a dos Estados Unidos, do Brasil e da Índia, por exemplo.
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Esquece-se, contudo, de abordar os países de baixo crescimento económico (africanos, sobretudo) e de forte crescimento demográfico, não raras vezes contido pelas piores razões: a fome e a doença.
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Esquece-se ainda de referir o efeito que o declínio demográfico europeu terá, se não for contrariado, sobre o potencial de crescimento na Europa. A realidade social é multifacetada e qualquer abordagem limitada a uma perspectiva distorce a validade das conclusões retiradas.
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Ocorre-me, a propósito de leituras de conceitos em termos relativos e absolutos, a discussão peregrina que opôs o governo à oposição durante a discussão do OGE a propósito do crescimento da dívida pública que cresce em termos absolutos, (o que é uma lástima, segundo a oposição) e decresce relativamente ao PIB (o que é um sucesso, segundo o governo).
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Sendo o crescimento demográfico em Portugal inferior ao crescimento económico, ainda um dia destes teremos nova discussão para nos entreter: acerca do nosso fulgurante crescimento per capita. Sem que ninguém fique menos pobre nem menos rico por isso.

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