Saturday, February 02, 2008

PECADOS PÚBLICOS

E o Dick Cheney? E o Dick Cheney?, perguntava-me um amigo indignado com a campanha do Público, no entender dele, de destruir Sócrates desde o momento em que a OPA da Sonae sobre a PT saiu furada ao Belmiro. Para o meu amigo, mesmo que Sócrates tivesse assinado por favor projectos de outros que a lei impedia de apresentar, a ilegalidade, se ilegalidade houvesse era corrente na época e nada se comparava com as ilegalidades e imoralidades cometidas por políticos bem mais conhecidos mundialmente que Sócrates. Dick Cheney, por exemplo.
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Pelo menos, num aspecto o meu amigo tem razão: é frequente os nossos políticos sujarem-se por pouco. Nada que se compare com as fortunas que se movem de cada vez que se movem em proveito próprio muitos políticos galácticos. Sócrates, se deu de favor a sua assinatura a projectos da sua especialidade e acumulou alguns rendimentos com o subsídio de exclusividade enquanto deputado, no mesmo período, não ficou rico por isso. Os tais galácticos quando se arranjam, arranjam-se a valer. Sócrates, enquanto deputado, ganhava mal; enquanto primeiro ministro, continua a ser mal pago. É por demais evidente que os 10% de subsídio por exclusividade de funções na AR apenas lhe consentiam jantar fora uma vez por outra e vestir-se como ele gosta. De resto, se tem real mérito e capacidade de ganhos fora do parlamento, só por entranhado amor à causa, um deputado opta pelo regime de exclusivo exercício parlamentar. Ou se for rico. O que não parece ser o caso de Sócrates.
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Sócrates, portanto, se não estamos perante um caso de difamação do Público, terá no cadastro mais uns pecadilhos, coisa que não será relevante para a opinião pública, tanto mais que, já há dias aqui o referimos, a mentira tem muito mais charme que a verdade.
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Dito isto, uma conclusão irrefutável, no entanto se impõe: é na desculpabilização pública permanente dos entorses à moral e á ética, na banalização das notícias acerca de actividades ilegais ou imorais, de pouca ou grande monta, que germinam as sementes da corrupção miúda e graúda, que são o joio que destrói a seara democrática.

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