Wednesday, November 28, 2007

O DISCURSO AMARELO

De vez em quando, mas cada vez com mais frequência, ouvem-se discursos apoquentados com a globalização, encontrando-se à mesma esquina os movimentos que escaqueiram nos locais onde se reunem os G8 e alguns candidatos a fazer parte do grupo de representantes do sumo grupo. Para além deles, está o mundo dividido:entre uns que vêm na globalização o motor de crescimento global e o melhor meio de conter a guerra global e outros que vêm precisamente o contrário. Eu estou com os primeiros.
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Discordei:
O seu tema de hoje é muito pertinente mas não pode ser tratado em tão poucas linhas.
A questão da concorrência dos países menos desenvolvidos, e concretamente da China, tem muito que se lhe diga.Porque assim é, limito-me a fazer apenas duas ou três considerações acerca do assunto.
1 - Ambiente: Os consumos energéticos na China são muito inferiores aos observados nos países desenvolvidos do Ocidente. Que poderemos impor-lhes: Que deixem de crescer?Eu estive na China há bem pouco tempo e posso garantir-lhe que o que vi em termos de preocupações ambientais deixou-me espantado. Há muitas cidades onde a maior parte dos veículos de duas rodas são eléctricos. Em Pingyao, uma cidade que fica a uns 600 km de Pequim, todos os veículos que circulam no interior das muralhas são eléctricos. Salvo as bicicletas, claro está.A China tem um problema de poluição que decorre da utilização do carvão na produção de grande parte da electricidade que consome. Muitas das minas são muito antigas e os processos estão obsoletos. Mas muitas dessas minas já foram encerradas e as que subsistem estão a ser objecto de renovação.
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2 - "Dumping social": A China tem cerca de 1,3 biliões de habitantes, metade dos quais ainda habita nas zonas rurais. Mas tem experimentado um crescimento espantoso. Que poderemos impor-lhes? Que aumentem os salários, que garantam assistência social e reformas como no Ocidente? Como é que isso se faz? Levantamos novamente as barreiras alfandegárias? Recuamos no comércio livre? (...), não sei se já se deu conta que a China é, neste momento, e tem sido nos últimos anos, o motor da economia mundial. Sem o dinamismo económico chinês actual estaríamos todos em muito maus lençóis no Ocidente. É a China um grande exportador? Poi é. Mas é também um grande importador. Sabia que reabriram minas h á muito encerradas, até em Portugal, porque os chineses estão no mercado como nunca ninguém esteve? O ferro, o cobre, a pasta de papel, afinal todas as comodities estão neste momento num momento alto como há muito não não estavam. (...) o assunto não se pode analisar com duas penadas. E ainda bem.
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Eu seria o último a defender um sistema ditatorial para governar um país. Evidentemente que a China enfrenta muitos problemas e, provavelmente, o mais difícil de transpor será a passagem, inevitável quanto a mim, para um regime democrático. Lá chegará e nós precisaremos de pelo menos de tanta paciência de chinês quanto eles.Se a questão fundamental do seu post são os custos não incorporados das agressões ao ambiente, a China não está isenta de culpas mas não é a China, certamente, a maior culpada.O problema ambiental é, perdoe o chavão, uma questão cultural. Não se resolve capazmente se não através de uma mudança de cultura.Quer um exemplo aqui ao pé da porta:Todos os dias o IC19 se congestiona de trânsito e se entope com acidentes. E por quê? Fundamentalmente porque não temos combóios e acessibiliades ao transporte ferroviário que levem as pessoas a optar pelo combóio. E não temos por quê?Porque, culturalmente (quando falamos de cultura muitas vezes do que falamos é da falta dela) esta questão nada diz à generalidade das pessoas.Veja o que acontece em na Suíça: As pessoas utilizam os combóios para toda a parte. Vão para o combóio de autocarro ou de carro eléctrico, ou a pé até. Veja no http://aliastu.blogspot.com/ um post que dediquei há bem pouco tempo ao assunto.Já agora, se tiver pachorra., leia o meu diário da ida à China.Está lá uma pequena parte do que vi num lado e noutro. Para quem esteja interessado em ler um livro acessível e ponderado sobre a China permito-me sugerir uma edição portuguesa , da ASA salvo erro, escrito pelo Subdirector de Les Echos : "Quando a China mudar o mundo."
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Diz V. que "a evolu ção das trocas internacionais está em rota de colisão com o ambiente e o respeito pelos direitos humanos."
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(...) Depende do que estamos a considerar.No caso da China,por exemplo,o incremento das trocas comerciais não tem feito regredir a causa dos direitos humanos naquele país. Bem pelo contrário, sou da opinião que serão as trocas comerciais que vão determinar que os direitos humanos venham a ser no futuro mais reclamados (é por aí que as coisas começam) e mais conquistados.Quanto ao ambiente, idem aspas. Foi o enclausuramento das economias de leste num regime fechado que determinou um dos maiores desastres ecológicos em larga escala de que há memória.
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É a consciencialização dos consumidores para as questões do ambiente que pode evitar que, por exemplo, o IKEA produza móveis com madeiras de florestas tropicais. Pelos preços não vamos lá. Antes, pelo contrário, a generalidade das pessoas guia as suas comprars pelos preços.Para vencer a guerra de defesa do ambiente temos de come çar pelas atitudes. Já viu quantas toneladas de brinquedos "made in China" as pessoas estão a comprar para empanturrar os putos? Toneladas de brinquedos que eles não têm tempo para digerir? A culpa de quem é?Dos chineses? Claro que se podem arranjar umas artimanhas para chatear o chin ês. O governo dos EUA tem lançado mão de algumas. E na Europa há muita gente a pensar no assunto. Mas são só paliativos. A menos que se desencadeie uma guerra comercial que descambe na outra.
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A última.

1 comment:

António said...

Caro senhor,
O problema ambiental da China e que o Mundo está e irá pagar por muito tempo, não está nas minas de carvão. Está na queima do carvão, na tecnologia obsoleta comprada na América e na Europa, na falta de tratamento dos efluentes, sólidos, líquidos e gasosos.
Não tape o sol com uma peneira da mesma forma que muitos o fazem referindo-se aos automóveis como os grandes poluidores, esquecendo os escapes dos aviões.
O que o amigo viu na China, foi o que lhe foi permitido ver.
Você, como os chineses, não levanta a carpete para mostrar às visitas, pois não?